um chão Liechtenstein coberto de confetti derrete no verão mastigado.
Um All star bem branquinho com o solado engordurado.
Suas palavras são tão mentiras e eu sigo bem atrás dos seu passo.
Desligo o ar-condicionado e cubro a verdade alheia.
Paredes vermelhas. Embaraço.
segunda-feira, 30 de novembro de 2009
quinta-feira, 19 de novembro de 2009
bolas de tênis espaciais
Conseguindo bater na bola bem no meio da raquete, com muita força, na vertical, ela iria voltar depois de transpor uns 2001 andares. A nossa imaginação voava junto e chegava lá onde as espaço-naves estão mergulhadas, boiando coloridas. Meu irmão conseguia. A bola amarela por um instante era a bolinha de tênis. Uma laranja. A lua. Uma pinta Napalm no céu. Uma pinta Napalm no céu. A lua. Uma laranja. Ela está voltando. Uma bolinha de tênis saindo na vertical bem do meio da raquete. Achava aquilo o máximo, coisa de menino, porque eu era menina e não conseguia. Eu conseguia passar para a fase seguinte nesses jogos de pular, com barulhos fosforescentes e cores comestíveis. Jogos para meninas. Porém, somos duas. Gêmeas. E meu irmão é um só. E ainda por cima menino. E nós duas. Vida dura a dele, castigo divino nascer homem. Rubis nos olhos nascer menina, rosas amassadas, rubis sangrando nos olhos. Nascer menina. A bolinha subia 2001 andares e nós iguais e terríveis. Terrível. Terríveis. As duas bonecas-iguais-sem-cabeça. A estante enfileirada de bonecas-iguais-sem-cabeça prontas para o desfile. Meu irmão lançou os dados : “ Elas não são como as outras. “ E eu. E ela. Tramando. Agora, estamos aqui sentadas na frente dos consoles, os olhos brilhando avermelhados. Uma frustração dupla. O dobro da imensidão de uma dor solitária. Mar vermelho. Double Blood Mary. No dia em que ele tentou interferir de verdade uma terceira sombra vermelha se fez. Nenhuma de nós duas conseguiu passar a bola de tênis para a outra galáxia sem a ajuda dele. Menino bobo.
- Que cara é essa, meninas ? É só um jogo bobo.
Que coisa. Ele até confirma.
- Que cara é essa, meninas ? É só um jogo bobo.
Que coisa. Ele até confirma.
quarta-feira, 18 de novembro de 2009
4-3-3
O olho exageradamente periférico feito uma mosca fugindo do ataque. Estou pisando onde
milhões de espelhos foram quebrados e há um zero à esquerda.
Carrego no pescoço binóculos rachados pela inconstância do meu olhar.
E tudo posso ver.
" Pois o que é tudo senão o que pensamos de tudo ?"
Não admito uma equipe que não no ataque. 4-3-3.
Um rasgo zunindo laranja, a revoada de balas douradas.
E todos foram dizimados pelo meu frenesi sem razão.
mas...
" Estala, coração de vidro pintado!"
milhões de espelhos foram quebrados e há um zero à esquerda.
Carrego no pescoço binóculos rachados pela inconstância do meu olhar.
E tudo posso ver.
" Pois o que é tudo senão o que pensamos de tudo ?"
Não admito uma equipe que não no ataque. 4-3-3.
Um rasgo zunindo laranja, a revoada de balas douradas.
E todos foram dizimados pelo meu frenesi sem razão.
mas...
" Estala, coração de vidro pintado!"
quarta-feira, 11 de novembro de 2009
toda doçura será castigada I
aqui os caramelos derretem no fogo lambendo o dia
é o meu rumo, minha asfixia
marshmellows que eles não são
e tudo que era doce, agora é só carvão.
é o meu rumo, minha asfixia
marshmellows que eles não são
e tudo que era doce, agora é só carvão.
terça-feira, 3 de novembro de 2009
João, o apóstolo. João e o pé-de-feijão. João.
João umedeceu o algodão colorido.
O azul claro ficou mais escuro contra o fundo da taça descartável de um azul mais azul. A estrela sozinha foi plantada guiando a receita. Um céu.
Durante três dias João irá olhar para dentro do copo.
De pouco a pouco uma colherada de água. Uma colherada em macarrões de tubinho e o desejo de feijões mágicos com arroz. Enfiar a cara na cama para pensar e esperar. Uma colherada de água.
"João, vem jantar."
No terceiro dia ou aparece um gigante ou o seu irmão volta.
O azul claro ficou mais escuro contra o fundo da taça descartável de um azul mais azul. A estrela sozinha foi plantada guiando a receita. Um céu.
Durante três dias João irá olhar para dentro do copo.
De pouco a pouco uma colherada de água. Uma colherada em macarrões de tubinho e o desejo de feijões mágicos com arroz. Enfiar a cara na cama para pensar e esperar. Uma colherada de água.
"João, vem jantar."
No terceiro dia ou aparece um gigante ou o seu irmão volta.
segunda-feira, 2 de novembro de 2009
Um bolo.
A ultima fatia do bolo descansando exausta há dias.
O bolo derramando na fôrma pequena e espalhando um cheiro doce pela casa, aliviando as brigas.
O pouco fermento para tanto bolo e a vida no mesmo ritmo.
A colher que não dá conta de bater o bolo e a distração do olhar côncavo espelhado.
Só o recheio do bolo bastava, mas no fim só sobram as raspas.
O primeiro pedaço do bolo magoando os outros convidados.
Não é compreensível um bolo que não seja de chocolate, não é compreensível você não gostar de mim.
Bolo sem cobertura, você em outra cidade.
O bolo que não desgruda do fundo, eu em outra cidade.
Um buraco no meio do bolo que não cresceu, um coração.
Bolo bonito, ruim de gosto.
Bolo muito doce, só um pedaço, só ilusão.
Siga a receita.
quarta-feira, 7 de outubro de 2009
A Dor do Verão
Os meninos estão sozinhos em casa. Aquela fumaça de calor sobe do piso lá fora formando figuras fantasmagóricas que se esvaem com pensamentos bons. Embora ele seja um ano mais velho é bem menor que o irmão, mas seus braços cresceram tanto... O dedo do riste encosta na água morna e azul. O reflexo dá o tempo necessário para o drible antes do empurrão. Agora, eles correm em volta dela. A recomendação é que não se atrevam a desobedecer a ordem de não entrar na piscina sem os adultos em casa. Faz 36°, ora bolas. O maior pulou dentro e espalhou desobediências por toda a borda azulejada. O menor riu e correu para dentro buscar o jacaré vermelho, o macarrão vermelho, os óculos de mergulho rachados. Voltou batendo o recorde mundial dos 100 m rasos. E corria. E corria. E corria contornando o retângulo perfeito no qual entraria e aplacaria a dor do verão. Os olhos fechados de menino que corria. Depois de não-sei- quantas-voltas rodopiou preparando o pulo com todas aquelas coisas vermelhas na mão e os olhos embaçados. Porém, um átimo antes do salto o pensamento bom expirou e a imagem era fosca e azulada. Os meninos estão sozinhos em casa. O objetos avermelhados ficaram pesados e não deixavam ele imergir também. Ele tentou erguer o irmão lá do fundo, mas sentiu o peso de ser o mais velho, um sufoco no pulmão esclareceu que deveria ter dado menos voltas e deixou-se afogar também.
sábado, 3 de outubro de 2009
Fim.
No ponteiro menor marcava 17 minutos. Puxei a camisa, ajeitei, coloquei para dentro. Olhei os pés de cima, sem meias. Apareciam as pontas dos dedos saindo da barra da calça, muito grande. Desviei a cabeça para o lado e observei ao meu redor, novamente. A casa vazia. Duas malas em pé, esperando a saída. Os pés descalços. Os chinelos já estavam na mala e as meias também. Senti pela enésima vez um frio subindo.
Não deve ser a falta de meias. Os pés descalços. Os chinelos na mala.
Fiquei assim sem mais. Plantado. No ponteiro menor marcava 25 minutos. Não adianta ir até a cozinha tentar matar a sede, os copos já foram levados. As frutas foram jogadas.
Então, por que ainda estou aqui ? Não consigo mexer um dedo mais.
Um barulho de meia hora me desperta. Foi uma engrenagem. Um tic-tac.
Se eu não quero sair é porque estou descalço e não há mais nada lá fora também.
Não deve ser a falta de meias. Os pés descalços. Os chinelos na mala.
Fiquei assim sem mais. Plantado. No ponteiro menor marcava 25 minutos. Não adianta ir até a cozinha tentar matar a sede, os copos já foram levados. As frutas foram jogadas.
Então, por que ainda estou aqui ? Não consigo mexer um dedo mais.
Um barulho de meia hora me desperta. Foi uma engrenagem. Um tic-tac.
Se eu não quero sair é porque estou descalço e não há mais nada lá fora também.
quarta-feira, 30 de setembro de 2009
12. não, 13.
meia dúzia de marshmellows boiando felizes em cada xícara de chocolate quente. pelo menos estão com cara de felizes. umas fatias de bolo de banana fumegando e copos com guaraná. são doze. não, treze. um montão de pão de todos os tipos e tamanhos. todos fofos. taças de frutas vermelhas cobertas de chantilly. potinhos de doce de leite. queijo com muitos buracos. a Santa Ceia tá uma festa hoje.
sábado, 26 de setembro de 2009
poeminha de menina
para c.
de todos os coelhos o que eu mais quero
tem os olhos amarelos
seu amigo mais sincero
é um gato com olhos de caramelo
o coelho apareceu em um dia
repleto de margaridas
e fez o colorido da minha vida
depois o coelho de olhos amarelos fez uma canção
e no meu pulso apareceu um coração
foi assim que eu decorei os seus versos
foi assim o começo do universo
de todos os coelhos o que eu mais quero
tem os olhos amarelos
seu amigo mais sincero
é um gato com olhos de caramelo
o coelho apareceu em um dia
repleto de margaridas
e fez o colorido da minha vida
depois o coelho de olhos amarelos fez uma canção
e no meu pulso apareceu um coração
foi assim que eu decorei os seus versos
foi assim o começo do universo
terça-feira, 22 de setembro de 2009
enchente.
o não-beijo que eu sempre quis secou minha boca. a saliva, reservada
e única para você, inundou o mundo até chegar na ponta do meu coração.
já não consigo manter os pés firmes.
porém, o que mantém as coisas espalhadas em seus lugares é o mar aberto cobrindo o seu coração também.
guardei na minha boca, seca de desejo, os versos mais bonitos que escrevi para você,
escorrendo pelo chão.
segunda-feira, 21 de setembro de 2009
33
Sentado no meio-fio tenho essas idéias brilhantes. Um fogo-fátuo no cérebro que endoidece minha mãe, por isso não entro. Levei o lixo para fora e fiquei ali sentado até ela descobrir minha escapada estratégica. Essas idéias que me veem a cabeça são como como lava saindo do vulcão. E ela a chuva torrencial que tudo apaga. Meu olhar atravessa a rua e eu conto 3 guarda-chuvas vermelhos. A vista das nuvens deve ser bem melhor do que daqui de baixo. Imagino que meus pés possam ter asas e, enfim, possa discorrer sobre meus livros profanos em outros ares, que não minha casa. Levanto após o grito e meu tênis acende suas luzes passo a passo. Nada mal esses tênis com luz! Olha que se eu cresço mais um pouco não acho mais meu número.
sábado, 12 de setembro de 2009
Belle Époque.
Três coccottes fumam charutos cubanos emprestados de George Sand, esfumaçam caras chocadas de damas apimentando-se, tomam seus cafés bem fortes em xícaras de porcelana chinesa, enquanto suas pernas escapam dos vestidos num murmúrio negro. Três coccottes riem em volta de uma mesa redonda, diante de três manuscritos abertos um jazz solta as tiras dos sapatos, outro assunto proibido vem à tona. Três coccottes sobem, pérolas rolarão as escadas.
terça-feira, 1 de setembro de 2009
receita de coelho
Ei, me liga antes das sete, estou batendo o bolo. O rádio tá ligado e as nuvens desenham bichos de pelúcia bem brancos, feitos esse coelho que carrego nos braços todos os dias. Você nota ? Tenho os olhos iguaizinhos os dele, bem vermelhos. Não sei se é o chá de ervas ou o choro insistente antes do mar vermelho. Aliás, como é bem negro de tão vermelho, não é ? Como os olhos do coelho que carrego nos braços todos os dias, vermelho. No globo de verdades que vejo todos os dias, um líquido aminiótico rebenta a vida sangrenta. O bolo está no forno e o coelho sente o cheiro. Você vem, não é ? Tenho medo dele procriar feito coelho e a casa será deles. Alice, siga-me. O bolo está pronto e a cobertura ficou uma beleza. Me cubra, durma comigo, venha, é para você. Antes que alguém apareça e liquidifique o chão de um vermelho cego. Antes que alguém apareça e eu vá junto. E deixe um milhão de coelhos se lambuzando de bolo. E você sozinha segue quem não se deve seguir.
quinta-feira, 27 de agosto de 2009
Vãos entre o Edifício Babel.
Um vento forte aterroriza as minhas janelas. Não tem luz, já escurece, daqui do décimo andar vejo um leve branco nas nuvens afoitas. Há um sentimento escurecendo em mim também. Páro, não sei o que acontece, tenho a impressão de ter visto a mesma cena junto com a minha mãe. Olho de novo pela janela e seres humanos gigantes passeiam por entre os prédios, enquanto eu pergunto para uma amiga, sentadas no sofá - se conto o que se deve contar.
domingo, 23 de agosto de 2009
amores estranhos em Maui.
Silêncio, querida. Seus pés arrastam havaianas vermelhas, colares de flores me irritam e os passos hula-hula soam engraçados aos meus olhos. Tomei aquelas duas pílulas que você me deu e a dor não passa. Silêncio, querida. Já há algumas horas não quero mais saber de seus vestidos de veraneio. De seus olhos rasgados, de suas tentativas de chamar a atenção. Troque o que você me observa pelas ondas gigantes do mar. Desejo o melhor para você, que as ondas arrebentem nos seus pés, que as lavas dos vulcões em eterna erupção te engulam e você não dance mais. Suja de água salgada você sentirá melhor o meu sal, suja de fogo você sentirá melhor o que eu sinto. Vá para o mar agora, onde a lava empedra em silêncio absoluto. Silêncio, querida.
quarta-feira, 5 de agosto de 2009
YSL
O Seth deu agora para ferver os perfumes caros da mãe dele. Eu perguntei a finalidade de tal experiência química e ele me disse que tava 'capturando'. Hum-rum. Não entendi nada, mas achei válido. Um tempo depois eu me toquei, depois que o treco tinha encalacrado no chaleira e o cheiro espalhou pela casa. Achei que estava em Paris. Na loja de Monsieur Laurent.
Seth me olhou por um tempo com cara de cientista e disse :
"Sei no que você está pensando"" Em quê ?"
" Em teletransporte."
" pois acertou de novo".
segunda-feira, 3 de agosto de 2009
uma tarde ou um carinho qualquer
Ainda quando a vejo fico envergonhada. Quero me esconder atrás da porta e olhar pela fresta, mas ainda assim olhar.
Um pouco porque tenho vergonha de tudo e
outro pouco porque acho ela bonita demais.
Outro pouco porque ser sardenta me inibe.
E hj fazia sol e meus cabelos vermelhos aparecem.
tem outra tbm, não sei direito se ela quer.
minha habilidade em amar infinitamente, meus olhos pintados, minha vontade de ver três filmes sem parar.
mas, assim, se você quiser, te compro pantufas de coelho.
Um pouco porque tenho vergonha de tudo e
outro pouco porque acho ela bonita demais.
Outro pouco porque ser sardenta me inibe.
E hj fazia sol e meus cabelos vermelhos aparecem.
tem outra tbm, não sei direito se ela quer.
minha habilidade em amar infinitamente, meus olhos pintados, minha vontade de ver três filmes sem parar.
mas, assim, se você quiser, te compro pantufas de coelho.
sábado, 1 de agosto de 2009
chill out
para ela lá.
Por ela, dormiria todo mundo empilhado, na sala. E ficaríamos acordados até começar a chover. Agora, por ela, toda esquina tem uma floricultura, com delivery 24 horas. Ficamos perto assim, de novo, meio que por acaso, teclando e fumando um cigarro. E ficar perto me deixa envergonhada e feliz. Por alguma razão que finjo desconhecer. Agora, vamos ver um filme e, por mim, ficaríamos assim. Olho no olho.
quarta-feira, 29 de julho de 2009
duas mil horas
estou pisando e olhando com atenção, os pedaços dele estão por aqui, em algum lugar.
você não viu ? tenho certeza que está em algum lugar... levei duas mil horas para juntar todos os pedaços, mas ainda tem alguns espalhados e podem se perder. Não pretendo perder nenhum deles, assim, porque vai que numa dessas você muda de idéia e quer ele inteiro de novo. Não ligo de você ter deixado para lá e não querer mais. Eu daria de novo. Eu colo com superbond, sei lá. São vermelhos, você não viu, tem certeza ? Quando eu recuperá-lo e ele estiver bonito de novo eu pergunto se você por acaso não quer de novo. Uma vez você até se interessou, mas agora nem quer. Ele tá meio estranho, sem rumo, mas ainda é bonito. É vermelho, já disse, não é ?
Não tô achando todos, mas ficamos assim, ele ainda é seu. Você tem certeza que não está escondendo os últimos pedaços de mim ? Vai que numa dessas você quer se livrar do problema e está escondendo. No caso disso ser verdade, lembre, você está com pedaços de algo muito importante e que é seu. E isso não se faz. Não bastava tê-lo esmigalhado com os dentes ?
domingo, 26 de julho de 2009
lava
A palma da minha mão esquerda arde quando estou profundamente triste. É o termômetro da minha febre. Eu sinto uma linha sendo traçada a ferro e fogo e a tristeza tem para mim a dor de um cigarro sendo apagado na mão constantemente. E isso não é ficção, não é um texto em um blog, não são letras digitadas. Agora, vou tentar dormir com as suas cinzas no meu bolso.
você mal falou comigo essa noite.
segunda-feira, 20 de julho de 2009
Linda.
as bonecas gordas de bochechas rosadas estavam estraçalhadas. achei um desperdício quebrar o jogo de chá de porcelana. mas achei interessante roer tanto as unhas que sangraram infinitamente. ela parecia Linda possuída. que horror. fiquei com medo. mas minha tia estava aqui e dizia que não era nada. ainda era ela. mas não parecia. juro. caquinhos brancos espalhados pelo chão e os cabelos encaracolados suspensos enquanto giravam. eu queria olhar porque nunca tinha visto. mas olhar também machuca. e minha irmã nunca tinha pulado do décimo andar também. essa parte eu também nunca tinha visto.
terça-feira, 7 de julho de 2009
Binóculo
Daria a você uns biscoitos e um copo de leite. Coloco o dedo no olho e coço. Estou envergonhada. Faço isso quando estou envergonhada. Você correu para o outro lado e eu nem tenho coragem de acompanhar. Daria a você um frisbi rasgando o céu. Amasso um papel de bala no bolso. Tenho gosto de balas cor-de-rosa na boca. mas antes de tudo tenho vergonha de olhar again. Daria a você um punhado de bolinhas de gude bem transparentes. Juro que se eu me mexer escorrego. Tique. Nervoso. Tem algo pressionando meu coração, sei lá. Uma mão. Um olho. Uma música. Um batom ? Daria a você uns poemas bem articulados. Estico meu pé vermelho de all star. Quase escorrego. Tenho fome e aquela coisa pressiona meu coração, não sei bem o que é. Pisco o olho e crio um fio de coragem. Olho e desolho de novo. Ai. Daria a você esse coração apertado.
sexta-feira, 12 de junho de 2009
coração ao molho pardo.
Não tem fogo, nem colheres fumegando. Não tem pista, nem escravos respondendo. Meu coração partido em sete pedaços, garfos vermelhos são usados. Toalhas sem bordados, margaridas de plástico. Sou mesmo muito perigosa. Sou dessas que não desistem e não acreditam tanto nas mentiras -a única mentira que me dou ao luxo é dos amores mal contados. Não tem calor, nem pratos bem feitos. Tudo o que está sendo servido é cru, frio e famigerado.
domingo, 7 de junho de 2009
Cherry Coke
Georgia tira os pés para fora da limosine, adornados por salto 15, seus olhos latejam em cima de Luana, virando um copo. As luzes são cegas, Las vegas em blackout, com festa, sem siso. As casas passam correndo diante da visão dublê caído. Vãos negros entre elas cheios de uma pequena sujeira. O carro pára. Georgia desce sem mangas, sem saia, sem norte. Entre a negritude das vielas, o branco dessas pernas parece fio-dental passando entre os dentes. Luana corre atrás, sem saber o porquê. Nem que saiba, somos alheios, feito ela. As pernas, todas elas, titubeiam perto de poças de cristal líquido. São aqueles olhos que veem brilhantes. As pílulas boiando no champagne fazem agora efeito. Georgia não dança. Seus pés dão a volta na lama, deixando um rastro de lesma. Vírgula, corpos angulares. Luana deita em cima dela. Milhões de buracos de fechaduras giram a chave e espiam assustados. A limosine é multada. Elas riem.
segunda-feira, 1 de junho de 2009
exposição.
páro como um palito de fósforo no átimo antes de queimar. o relógio gira os ponteiros, alguns sem mostrar. tão simples o momento. o que teria acontecido se tudo tivesse sido apenas o retrato ? Quantas lembranças durante uma vida do tal retrato ? o tempo de um palito de fósforo queimando ? Contudo, só as conjecturas não bastam à verdade. Os relógios não derretem, mas o amor ainda empalidece, e a ausência física de um Dalí não o diminui.
quinta-feira, 14 de maio de 2009
partida de futebol
Seth reuniu uns meninos com meias que chegavam em seus joelhos. Vermelhas como seus hematomas pós futebol. Ele me disse que as bolas altas são inglesas e que as rasteiras são latinas. Eu até já sabia. Seth tinha as suas arriadas e eu só conseguia olhar para as suas meias. Ele levou a bola, o líquido azul e o treinador, que era o seu Antônio. Seu Antônio ficou sentado ouvindo um rádio bem pequeno colado no ouvido. Seth não fez gol, mas olhava o seu Antônio e ria. E aí sim era gol. Na hora da saída ele defendeu sua cobrança de falta no céu e minha presença inesperada no meio de 22 meninos-pimbolins. Seth sempre faz vários gols.
sexta-feira, 1 de maio de 2009
Fábula
Olha, como as coisas são, onze mil uvas caem sem avisar
e entulham seu chão
O fim da carta, sumia, não tenho pretensões
não descubro nada nada sou Caminha
O que você quer é um sopro em um incêndio
Só eu sou a raposa de Esopo
No fim, me resta o compêndio.
sexta-feira, 24 de abril de 2009
Pólo
O espaço era branco e frio, mas há aquele teto tão instigante como só o azul sabe ser - era o céu de todos. Os pés pisando fofo. De longe, eram pontos pretos no alvo. Essa claridade, essa sensação de solidão reprimida pelo toque ao lado... Um milhão de pés juntos ou algo como a sensação de um milhão. Sensação de um milhão no quadrado apertado. Só que no final, quando todos saem de casa, os pinguins invadem a geladeira. O sumiço dos quindins, dos pudins, do yogurte de morango, cai nas costas dos mais gordos da família. E a coleção dos pequenos bichinhos de porcelana cai na gargalhada.
sexta-feira, 3 de abril de 2009
a quântica do mundo.
Uma xícara de chá, amanhecida, numa manhã de inverno.
A beleza volátil do amor.
Dois velhos implorando perdão.
Entrar em uma igreja com os pés quase limpos.
Voltar ao início cruel de meus pensamentos.
Lamber seu braço, sentir o sal.
Saber o mundo, igual.
O que eu sei, desigual.
A beleza volátil do amor.
Dois velhos implorando perdão.
Entrar em uma igreja com os pés quase limpos.
Voltar ao início cruel de meus pensamentos.
Lamber seu braço, sentir o sal.
Saber o mundo, igual.
O que eu sei, desigual.
domingo, 22 de março de 2009
Digitais
O prato de cookies invencíveis. Uma pessoa.
Ler que se tornou um não-hábito, seus livros invencíveis.
Um cinzeiro vazio e marcas de dedos na janela, um dia você também me deixou marcas, meu corpo de vidro estatelado. Os cigarros adormecidos em suas caixas moles. Minha boca mole. Meu pulmão cheio de ar. Nunca se sabe quando se quer não respirar. A lembrança dos dias em que o fôlego foi sugado por seus pulmões potentes. Seu coração potente de fumante filtro amarelo. As páginas amarelas. Michês despreocupados. Um, dois, três, quatro... Quantos eu ainda consigo ? Quantos homens ? Quantos cigarros ? Quantos dias ? Vou morrer de tanto respirar. Por favor, me leve e tape a minha boca, sem dó.
quarta-feira, 18 de março de 2009
"Amor Imaginário"
segunda-feira, 9 de março de 2009
calda escaldante.
me convide para o sorvete. aquele de calda escaldante. aquele daquele dia que você esqueceu e me deixou esperando. me convide para o seu recreio. o cachorro quente na esquina da sua casa. me convide para conhecer a gaiola onde te trancaram. e você esqueceu. esqueceu de você. me convide para te ver. e esquecer de mim. dentro do meu mundo pequeno e minhas tatuagens sem nexo. dentro do seu sexo. me convide para teu mundo pequeno. me convide para a mesa de chá. para o veneno de candykillerjuliet. me convide para andar na Paulista. me convide e segure na minha mão. me convide e me morda. me convide para entrar na frente do tiro que é para você. me convide para o chat onde tudo já foi dito. para olhar nos seus olhos noturnos. me convide para beber coca-cola. coca-cola no teu corpo. me convide para o espaço que ainda sobra em você. aquele que eu já tive. mesmo que não sirva. mesmo que você não ligue. me convide para estourar pipoca. para ver lesmas se arrastando. para olhar o céu cinza. me convide para o seu último dia. escolha o sabor do meu sorvete.
domingo, 1 de março de 2009
história de coelho
Um coelho sem os quatro pés. Uma menina tem seu álibi. Não será mais cruel, egoísta e idiota. Há muito tempo o coelho não quer mais caminhar. Uma menina com quatro pés de coelho amarrados no pulso.
Uma menina tem seu álibi. Não é egoísta, idiota e cruel. O coelho não tem mais pele. Uma menina de casaco branco e macio. Há muito tempo o coelho sente frio de qualquer jeito.
Há muito tempo o coelho está morto. Não será mais idiota, egoísta e cruel. Uma menina degusta carne tenra e saborosa. Uma menina tem seu álibi.
terça-feira, 24 de fevereiro de 2009
flocos, café e diamantes.
para ela ( you know...)
O dia que te vejo é sempre escaldante. Sorvete de flocos derrete na minha frente, absorta em outra coisa. Seus olhos pingam um número alto de quilates. Os meus, embaçam. Dia lindo, Felicity. Adornado de pedrinhas de açúcar para o nosso café, olhos de diamantes e um sorvete esquecido. Você está na minha frente.
segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009
Boné
Lucio tinha um terno bem cortado, uma gravata cinza mal colocada, a etiqueta aparecendo e não era pouco. Um Versace legítimo. Não sei se Lucio tem essa noção. Não sei se eu tenho noção. Para um garoto é um tanto estranho, mas as coisas são assim... Um chá na volta, uma passadinha no analista, um desencontro com a mãe. Todo dia. Trocando o número do sapato bem lustrado seria um homem. Teria um trabalho em vez da escola e, talvez, mais amigos. Lucio desce em passos lentos. Para que tantas escadas adornados em ilegítimos arcos de ouro ? Lucio queria um chocolate. Um bem simples. Não aqueles de embalagens tão estranhas que parecem rótulos de bebidas alcoolicas. Um bem simples. Lucio abre a porta tão devagar que eu penso que ele está fraco, mas não... a porta só é pesada para o tamanho dele. Quando ele sai eu não escuto nada, mas só lembro que ele é um menino porque ele meteu um boné na cabeça.
quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009
lancôme
Não tive escolha. Ela tinha os braços compridos, soltos no corpo. Como a outra.
Uma bolsa hype. Como ela. Não tive escolha, aquela maquiagem lisérgica.
Chamando o olho.
- Por que você olha tanto para mim ?
- Porque não dá para não olhar.
( como ela )
o equívoco na minha atuação física. Você. Tão bonita.
Tenho vinho. Tenho coragem. Tenho boca.
Tenho pena de mim, vendo você até nas interessantes.
sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009
Tribunal.
Não que eu tivesse um receio, mas era evidente o constrangimento. A maior sacanagem que Ele fez comigo foi essa história de eu saber exatamente quando uma pessoa está mentindo. Exatamente. E assim foi. Estava lá, inventando mentiras para sí mesma e, pior, acreditando. Eu no meio das histórias todas, sendo acusada, mas não sendo enganada. Porque não tenho a má índole ou o prazer sádico de jogar na cara das pessoas as suas mentiras. Fico quieta, mais contrangida que os mentirosos, tentando disfarçar a cara lavada de outros. Aliás, mentirosos todos. Todos somos. Aliás, vou ensinar a você uma coisa. Você deve ficar quieta. Bem quieta. Falar pouco como eu. Porque, minha cara, você entra em contradição o tempo todo. Suas teorias, por isso, ganharam alguns anos de suspensão. E niguém mais vai acreditar, porque será comum para todos. E se você ficar mais quieta, menos dona de sí, talvez poderíamos entrar no tribunal e tentar uma liminar contra sua suspensão. Assim sendo, não fico receosa com você, apenas de cara vermelha. Coisa que você não sabe o que é. Estou torcendo para que a maioria das pessoas não tenham sido sacaneadas por Ele e você consiga viver melhor. Pois eu não sou nada para você, então tanto faz. Já você, nesse quesito não foi sacaneada por Ele. Você acredita em você, não é ?
segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009
sete.
O amor é vizinho de porta da minha loucura. Bato três vezes e empresto uma colher cheia de nada. Todo dia invento uma desculpa para dizer três palavras. E bato três vezes, depois parto. Como se estivesse no mar, sem barco, sem uma tábua sequer para me agarrar. Fazendo de um utensílio doméstico ou um rabisco no papel o único alento antes de me afogar. Todo dia descubro que cresce dentro de mim algo que já nem cabe mais há muito tempo. No entanto, quieta, espero como se espera todo amor. Que por ser só amor, arrebenta como ondas insanas e morrem na praia, estufadas de espuma no canto da boca.
sábado, 31 de janeiro de 2009
Αμαζόνες του Τρωικού*
Safo quebra pratos em uma esquina de Atenas junto à um milhão de universitários com seu poema na ponta da língua.
Helena ,amotinada, taca fogo em um iate ancorado.
Artemis tira fotos de meninos nus na areia de Mykonos.
As três, tão inconformadas, usam camisetas com frase de efeito bordadas por Penélope.
*descubra você mesmo.
quinta-feira, 29 de janeiro de 2009
No inverno.
"Não tive filhos, não deixei a nenhuma criatura o legado da minha miséria."
(M.A.)
Tenho pena dela. Mesmo deslocamento. Mesmo silêncio. Mesma insônia. Todos olhando com aqueles ares de desaprovação. Será assim a vida inteira. Experiência própria. Se ela não fosse tão parecida comigo o mundo seria mais ensolarado. Pelo menos para mim. E o sol para ela. O mundo em eterno verão. Tão desconhecido o verão. Tão desaprovado pelos que preferem, como nós, o inverno. Os dias chuvosos. O céu cinza. E o silêncio. Esse silêncio. E o barulho do mundo. E a alegrias permitidas. E os olhares intolerantes. O deslocamento, no final, é apenas o começo. Seus filhos não serão suas dádivas, serão só a continuação da única tentativa de fugir da estupidez que te foi permitida. E fracassada.
sexta-feira, 23 de janeiro de 2009
Isaac tem 12 anos.
sentado embaixo da árvore de frutas geladas
dilatando seus pensamentos ruins com gás Hélio
um ave de rapina cruza todos eles com asas rajadas
e você nunca mais leva nada a sério
feito o menino que é de tênis encardido
e um leve sorriso enternecido
se uma maçã cai na sua testa
uma fórmula cai em chuva de rir à beça
cowboy, o mundo agora tem suas leis e foi você quem fez
dilatando seus pensamentos ruins com gás Hélio
um ave de rapina cruza todos eles com asas rajadas
e você nunca mais leva nada a sério
feito o menino que é de tênis encardido
e um leve sorriso enternecido
se uma maçã cai na sua testa
uma fórmula cai em chuva de rir à beça
cowboy, o mundo agora tem suas leis e foi você quem fez
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