quinta-feira, 19 de novembro de 2009

bolas de tênis espaciais

Conseguindo bater na bola bem no meio da raquete, com muita força, na vertical, ela iria voltar depois de transpor uns 2001 andares. A nossa imaginação voava junto e chegava lá onde as espaço-naves estão mergulhadas, boiando coloridas. Meu irmão conseguia. A bola amarela por um instante era a bolinha de tênis. Uma laranja. A lua. Uma pinta Napalm no céu. Uma pinta Napalm no céu. A lua. Uma laranja. Ela está voltando. Uma bolinha de tênis saindo na vertical bem do meio da raquete. Achava aquilo o máximo, coisa de menino, porque eu era menina e não conseguia. Eu conseguia passar para a fase seguinte nesses jogos de pular, com barulhos fosforescentes e cores comestíveis. Jogos para meninas. Porém, somos duas. Gêmeas. E meu irmão é um só. E ainda por cima menino. E nós duas. Vida dura a dele, castigo divino nascer homem. Rubis nos olhos nascer menina, rosas amassadas, rubis sangrando nos olhos. Nascer menina. A bolinha subia 2001 andares e nós iguais e terríveis. Terrível. Terríveis. As duas bonecas-iguais-sem-cabeça. A estante enfileirada de bonecas-iguais-sem-cabeça prontas para o desfile. Meu irmão lançou os dados : “ Elas não são como as outras. “ E eu. E ela. Tramando. Agora, estamos aqui sentadas na frente dos consoles, os olhos brilhando avermelhados. Uma frustração dupla. O dobro da imensidão de uma dor solitária. Mar vermelho. Double Blood Mary. No dia em que ele tentou interferir de verdade uma terceira sombra vermelha se fez. Nenhuma de nós duas conseguiu passar a bola de tênis para a outra galáxia sem a ajuda dele. Menino bobo.

- Que cara é essa, meninas ? É só um jogo bobo.

Que coisa. Ele até confirma.

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