segunda-feira, 26 de setembro de 2011

para as luzes amarelo-cinzentas


D. fechou a porta e deixou atrás o som de cem mil trancas. Não estava irritado com tudo, nem tinha a verve dos maus pensamentos, mas essa solidão que voltar das ruas lotadas infringiam nele deixavam esse rastro. Sentia o hálito das entradas das casas e os vidros das janelas que esfumaçavam pessoas. Já havia notado que S. havia chegado. O frêmito voltava e arqueava suas costas. As decisões - elas pediam para serem tomadas, velozes como patins no gelo. Chegou na ante-sala e olhou para a mesa onde uma xícara ainda cheia de chá repousava sozinha, deixando a sensação de ter sido esquecida às pressas. Viu também M. passar com uma cesta de frutas adocicadas pela porta, sem notá-lo, como costume. Pensou como seria esmaecer no amarelo-cinzento das luzes da noite e sair dali sem precisar contar o inevitável. "Querida S., amar é para os leigos".

terça-feira, 20 de setembro de 2011

máquina do tempo




a agulha espetada no sofá furou seu olho
você não vê nada
.
meu corpo caído
meu coração ensanguentado
meu filme proibido

o festim do meu amor
no céu estrelado





sexta-feira, 16 de setembro de 2011

para você, cortar os pulsos



esta chuva de napalm esta chuva de arrepios
há duas quadras e meia deste
apartamento
quase vazio

onde um corpo em cimento
e apocalipse
é marcado com pegadas de vaca
no cio

este corpo animal este corpo de merda
dois centímetros de um faca
que corta
na medida certa



domingo, 11 de setembro de 2011

os becos de Paris



um pelotão de bicicletas brilhava meu cabelo ruivo através de aros dourados, naqueles tempos. chuva e asfalto resplandecendo gotículas de um chão estrelado e marcas de rodas nas voltas ciclistas. eu tinha lá minha vergonha dos cabelos cor de laranjas caídas e da bola de futebol. dada a ingleses, latinos e inadaptados à bibliotecas. Paris não era sempre essa festa toda me deixando nervoso assim. e meninos com os dedos adocicando páginas e mais páginas. e o rosto salpicado me dava nos nervos. estavam todos absorvidos pela volta e eu olhava o mundo redondo e o cabelo encharcado de fogo. havia uns café abarrotados e uns escritores discutindo feio. um cinema um tanto abarrotado também de mentes pensando e um arco depois. se eu andar bem devagar ninguém me nota com tanta luz.

sábado, 3 de setembro de 2011

tenho os nervos também de aços



Impacientemente esperando : nada. Onde os relógios continuam tiquetaqueando viciosamente. O mar longínquo espelhando uma cor assustada, livre para deslizar navios afundados em falsas calmarias. Tenho os nervos também de aços, carcomidos pelo tempo que constrói conformidade.