quarta-feira, 7 de outubro de 2009

A Dor do Verão

Os meninos estão sozinhos em casa. Aquela fumaça de calor sobe do piso lá fora formando figuras fantasmagóricas que se esvaem com pensamentos bons. Embora ele seja um ano mais velho é bem menor que o irmão, mas seus braços cresceram tanto... O dedo do riste encosta na água morna e azul. O reflexo dá o tempo necessário para o drible antes do empurrão. Agora, eles correm em volta dela. A recomendação é que não se atrevam a desobedecer a ordem de não entrar na piscina sem os adultos em casa. Faz 36°, ora bolas. O maior pulou dentro e espalhou desobediências por toda a borda azulejada. O menor riu e correu para dentro buscar o jacaré vermelho, o macarrão vermelho, os óculos de mergulho rachados. Voltou batendo o recorde mundial dos 100 m rasos. E corria. E corria. E corria contornando o retângulo perfeito no qual entraria e aplacaria a dor do verão. Os olhos fechados de menino que corria. Depois de não-sei- quantas-voltas rodopiou preparando o pulo com todas aquelas coisas vermelhas na mão e os olhos embaçados. Porém, um átimo antes do salto o pensamento bom expirou e a imagem era fosca e azulada. Os meninos estão sozinhos em casa. O objetos avermelhados ficaram pesados e não deixavam ele imergir também. Ele tentou erguer o irmão lá do fundo, mas sentiu o peso de ser o mais velho, um sufoco no pulmão esclareceu que deveria ter dado menos voltas e deixou-se afogar também.

sábado, 3 de outubro de 2009

Fim.

No ponteiro menor marcava 17 minutos. Puxei a camisa, ajeitei, coloquei para dentro. Olhei os pés de cima, sem meias. Apareciam as pontas dos dedos saindo da barra da calça, muito grande. Desviei a cabeça para o lado e observei ao meu redor, novamente. A casa vazia. Duas malas em pé, esperando a saída. Os pés descalços. Os chinelos já estavam na mala e as meias também. Senti pela enésima vez um frio subindo.
Não deve ser a falta de meias. Os pés descalços. Os chinelos na mala.
Fiquei assim sem mais. Plantado. No ponteiro menor marcava 25 minutos. Não adianta ir até a cozinha tentar matar a sede, os copos já foram levados. As frutas foram jogadas.
Então, por que ainda estou aqui ? Não consigo mexer um dedo mais.
Um barulho de meia hora me desperta. Foi uma engrenagem. Um tic-tac.
Se eu não quero sair é porque estou descalço e não há mais nada lá fora também.