domingo, 30 de novembro de 2008

Da Série Revival - XVII








Piscina




Sair e olhar pela janela. Largue o meu pescoço, mas deixe marcas.O som da sua respiração, os dedos trêmulos e jóias Tiffany's. As roupas de Marie Antoinette boiando na piscina de líquido inflamável.Pérolas dentro de ostras. Flores esmigalhadas e formigas descendo pelas paredes. Entrar pela janela e chutar a porta por dentro, voltar a amar é despir-se dos visgos. Sub-amor queimando na lareira. Marshmellows. Lesmas. Luxúria visual. Dois corpos caídos no jardim.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Da Série - Revival : XVI







Intervalo




Um homem se afoga no degelo gaseificado de um refrigerante popular. Seus ossos derretem e o seu tênis de 300 dólares serve de bóia e status. A cena é pop, mas a pele explode em erupções felizes, como uma propaganda. Antes de afundar 150 milhões de internautas dizem já terem visto tudo isso antes.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Da Série : Revival - XV

tentativa fim de século




- Como foi isso ?
- Não sei... Ela estava lá caída, coberta de pequenos desenhos no corpo, desenhos muito detalhados, cortados mesmo... acho que era um pedaço de vidro.
- Desenhos?
- É. Desenhos.
- O que é que tem o vidro ?
- Ela fez os desenhos com o vidro.
- Com o vidro ?
- Ela se cortou com o vidro. Fez desenhos incríveis no corpo.
- Como é que você pode chamar isso de íncrivel.
- Porque era incrível... Os riscos estavam cobertos de sangue, um sangue fino, era uma forma de pedir ajuda... eu acho.
- ...
- E tinha uma coisa escrita na palma da mão.
- Hum?
- " Eu tentei várias vezes ".





sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Da Série - Revival - XIV





Máquina de Doces


No lugar onde você está tem uma máquina e alguns cremes. Você vai embora e leve seu coração gelado como um sorvete.Não amaldiçoe algumas das minhas perseguições, sou só um cão adestrado. Farejando incertezas. Culpa minha, deixei você derretendo na minha pele e ainda lambias os dedos.Agora, se eu te alcançasse, apertaria seu músculo e tudo irá vazar. Sangue e açúcar.A sua graciosidade tomando coca-cola vítima de olhares alheios. Fico perturbada.Saia fora, antes que eu conte para todo mundo que tudo isso é para mim.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Da Série : Revival - XIII

seis em seis horas


Agora só dói em mim você nunca ter acreditado. Seu coração amaldiçoado e descrente. Seu olhos estão furados e grudados em mim. Se você naquele dia tivesse lido este testemunho idiota e obsessivo eu teria tomado uma cartela de prozac com um copo de suco de laranja. Hoje não. Hoje eu só lamento e bebo café em litros. Comprimidos são para os loucos como eu. No entanto, nunca tomei um só. Não cuspa na minha cara lembranças que você não tem.
Eu fico acordada para maquinar o seu esquecimento.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Da Série : Revival XII

Plano de vôo


Cecília voando voando Cecília. Olhar para o teto é o seu grande prazer, ela sabe que está flutuando e sente o cheiro de luz na lâmpada lá no teto. Lá no alto. Flutuava pela parede, em cima dos armários, no vão das portas, nas dobras da cortina, seus passos desviando todos os quadros da parede...Cecília voando voando Cecília. O momento chave do dia, as unhas vermelhas, os olhos tão pretos e a alma tão pura, estranhamente pura.Cecília ouve o irmão ao lado e desce do teto. Ele sabe bem como tirá-la de lá. Maurício tem um revólver, um pacote bem branco e a alma de um doce ácido. Maurício tem apenas uma bala, ácida de doer. Maurício deixa o pacote transparente. E um revólver. Todo dia ele faz um barulho, coloca a bala, gira a roleta e assusta Cecília. Ela tem medo de nunca mais voltar a voar.

sábado, 15 de novembro de 2008

Da Série : Revival XI

Festinha


Seth vomitou algumas vezes e sente o estômago pulando, cheio de pipoca. Saiu da cápsula de simulação meio tonto, com ares de gênio de 21, mas um gênio com náuseas. Sartre de mochilas. menino existindo entre estrelas.Deixa o capacete escrito NASA em letras brilhantes na pia e joga um bom punhado de suco gástrico fora, com adornos de pipocas jumbo. Agora, ele levanta a cabeça e sorri, como sempre. A roupa pesada de astronauta deixa seus passos lentos e elegantes, ainda mais com esse sorriso de que nada aconteceu, sem gravidade. Abre a porta da cápsula e vê o Zorro, Ghandi e Cléopatra... esfrega a mão na barriga :" tinha me entupido de pipoca "E pisa na Terra pela primeira vez. Sorrindo.





quinta-feira, 13 de novembro de 2008

XY






M. mergulha a cabeça na banheira.
Alguns patos de bolacha champagne estão boiando no leite.
Ela levanta o pé, o líquido branco escorre pela perna.
M. esguicha pela boca feito um chafariz.
O importante é ninguém passar pela praça,
e Mariana não ser vista sem castidade.








terça-feira, 11 de novembro de 2008

Da Série : Revival - X

"Do amor e outros demônios"



Eu ando seguindo o mapa de sua sombra.
Procuro você para exalar uma ternura incansável.
A qual, eu sei, você trocará por outra mais corriqueira.
Porque é assim que você quer, normal.
Minha intensidade ultrapassa a naturalidade que sua vida pede,
a minha atinge níveis cicatrizantes,
e você quer sangrar até morrer...
Eu tenho o mapa e uma luz potente nas mãos.
Assim, enxergo você nas sombras vestindo meu coração.
Chego perto e ofereço minha ternura para você rasgar feito papel.

sábado, 8 de novembro de 2008

Da série - Revival - IX

Scarlet



São cinco pessoas de estirpe gloriosa, salto alto e diamantes.
Scotch, unhas pintadas de um vermelho-taciturno e a voz ficando rouca.
Um sorriso tão pensado e tão oblíquo que as levam a tal vida, sem reservas.
Glória parece uma santa gótica, cravada de pérolas, as pernas bem cruzadas, relaxadas de calmantes.
Outras duas se divertem esfregando os cílios em becos de seus corpos.
Uns vestidos todos negros e assinados, lançados no submundo à cartões de crédito. Chloe tem uma leve febre a troco de gargalhadas bêbadas, derruba um copo de cristal e suja o sofá cremoso.
Ninguém nem nota. Elas estão furtivamente.
Uma propaganda interfere em um possível happy end, Carolina até gostou e chuta os ratos que tentavam invadir a sala.
Nos sofás só cabem cinco.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

resignação




Não conheço nada mais volátil que a felicidade.

Não conheço nada mais bonito que o meu filme preferido.

Não conheço nada maior que o meu amor.





quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Billboard

Rita ouviu a mesma música a semana inteira, chupou algumas balas e tatuou um besouro no coração. Suas luvas bordadas não cabem mais, nem o seu único anel. Rita ouviu uma música, ouviu uma música, ouviu uma música. Sem todos os porquês, Rita se enforcou com os fios do I-pod.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Atomic Drink

Ele estava ali, os olhos esbugalhados, duas bolinhas de gude azul enfiadas na cabeça, com os seus braços apoiados no metal gelado, apoiando seu corpo que espera. "Meu Deus, como eu levo a sério as pessoas". Todo mundo atrasado. Um mundo inteiro a volta; cigarro, barulho e saias curtas. Ninguém que se leve a sério. Ninguém que se leva a sério. E ele lá, com bolinhas de gude, nesta orbe ensandecida, esperando...
...mas agora um átimo, uma coisa.
E foi, lisergia no olho. Bombardeio.
Ora, você ali, parada ali, tão blasé.
E a multidão. E o lugar. E a fumaça. E os copos batendo. E as meninas. E o metal gelado. E os olhos embaçados.
Você aí fazendo cegar. Arrancando bolinhas de gude que descem em catarata.
O olhar tão perdido.
Exala, querida, todo o meu amor.