terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

flocos, café e diamantes.













para ela ( you know...)


O dia que te vejo é sempre escaldante. Sorvete de flocos derrete na minha frente, absorta em outra coisa. Seus olhos pingam um número alto de quilates. Os meus, embaçam. Dia lindo, Felicity. Adornado de pedrinhas de açúcar para o nosso café, olhos de diamantes e um sorvete esquecido. Você está na minha frente.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Boné

Lucio tinha um terno bem cortado, uma gravata cinza mal colocada, a etiqueta aparecendo e não era pouco. Um Versace legítimo. Não sei se Lucio tem essa noção. Não sei se eu tenho noção. Para um garoto é um tanto estranho, mas as coisas são assim... Um chá na volta, uma passadinha no analista, um desencontro com a mãe. Todo dia. Trocando o número do sapato bem lustrado seria um homem. Teria um trabalho em vez da escola e, talvez, mais amigos. Lucio desce em passos lentos. Para que tantas escadas adornados em ilegítimos arcos de ouro ? Lucio queria um chocolate. Um bem simples. Não aqueles de embalagens tão estranhas que parecem rótulos de bebidas alcoolicas. Um bem simples. Lucio abre a porta tão devagar que eu penso que ele está fraco, mas não... a porta só é pesada para o tamanho dele. Quando ele sai eu não escuto nada, mas só lembro que ele é um menino porque ele meteu um boné na cabeça.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

lancôme

Não tive escolha. Ela tinha os braços compridos, soltos no corpo. Como a outra.
Uma bolsa hype. Como ela. Não tive escolha, aquela maquiagem lisérgica.
Chamando o olho.
- Por que você olha tanto para mim ?
- Porque não dá para não olhar.
( como ela )
o equívoco na minha atuação física. Você. Tão bonita.
Tenho vinho. Tenho coragem. Tenho boca.
Tenho pena de mim, vendo você até nas interessantes.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Tribunal.

Não que eu tivesse um receio, mas era evidente o constrangimento. A maior sacanagem que Ele fez comigo foi essa história de eu saber exatamente quando uma pessoa está mentindo. Exatamente. E assim foi. Estava lá, inventando mentiras para sí mesma e, pior, acreditando. Eu no meio das histórias todas, sendo acusada, mas não sendo enganada. Porque não tenho a má índole ou o prazer sádico de jogar na cara das pessoas as suas mentiras. Fico quieta, mais contrangida que os mentirosos, tentando disfarçar a cara lavada de outros. Aliás, mentirosos todos. Todos somos. Aliás, vou ensinar a você uma coisa. Você deve ficar quieta. Bem quieta. Falar pouco como eu. Porque, minha cara, você entra em contradição o tempo todo. Suas teorias, por isso, ganharam alguns anos de suspensão. E niguém mais vai acreditar, porque será comum para todos. E se você ficar mais quieta, menos dona de sí, talvez poderíamos entrar no tribunal e tentar uma liminar contra sua suspensão. Assim sendo, não fico receosa com você, apenas de cara vermelha. Coisa que você não sabe o que é. Estou torcendo para que a maioria das pessoas não tenham sido sacaneadas por Ele e você consiga viver melhor. Pois eu não sou nada para você, então tanto faz. Já você, nesse quesito não foi sacaneada por Ele. Você acredita em você, não é ?

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

sete.

O amor é vizinho de porta da minha loucura. Bato três vezes e empresto uma colher cheia de nada. Todo dia invento uma desculpa para dizer três palavras. E bato três vezes, depois parto. Como se estivesse no mar, sem barco, sem uma tábua sequer para me agarrar. Fazendo de um utensílio doméstico ou um rabisco no papel o único alento antes de me afogar. Todo dia descubro que cresce dentro de mim algo que já nem cabe mais há muito tempo. No entanto, quieta, espero como se espera todo amor. Que por ser só amor, arrebenta como ondas insanas e morrem na praia, estufadas de espuma no canto da boca.