segunda-feira, 24 de outubro de 2011

das mentiras que eu conto






meu silêncio não te engana, não é ?
mentira tem perna curta
e essa minha : manca feito saci

mas.

para ser exatamente o que se é
gritar um pouco qualquer coração furta-cor
resta-me em covardia e dor
ir ver você ali
na esquina do meu amor


sexta-feira, 21 de outubro de 2011

submundo




o meu coração correndo sangue de strass
brilhando falso em drinks vermelhos

droga de festas em mansão de superstars
derramando dor em peles de coelho

exalando cheiro pelos becos do bar
rindo da minha cara quebrada no espelho





segunda-feira, 17 de outubro de 2011

o dedo.






No caminho do supermercado pensei comigo que todas as meninas da rua tinham um sorriso no canto dos lábios, numa espécie de deboche coletivo. Comprei a caixa de sucrilhos com um labirinto desenhado atrás para continuar jogando. E quando eu chegar em casa vou virar o leite no chão depois que seu dedo cair dentro do meu prato. Porque agora eu sinto nojo de qualquer um dos seus charmes.

sábado, 8 de outubro de 2011

entrega de livros 07/10.





Um barulho de creque-creque-creque que me deixava um tanto inquieta. O livro com as bordas alaranjadas pelo hábito incoerente de devorar cenouras cruas enquanto lia. Seth era um coelho. Ele catou as nossas coisas em cima da mesa e deixou só a marca dos seus cotovelos. Eu me debrucei enquanto ele caminhava e consegui ver as horas. Estávamos atrasados feito o sol em manhã nublada. Ele me olhou e disse alegre :
" Não se preocupe"
" Você vai devolver os livros assim ?"
" Assim como ?"
" Assim laranja."
Seth largou a mochila no chão e abriu um por um, e a cada um por um ele me olhava com um sorriso no canto do lábio. No último ele piscou.
" Estão engraçados."
Não dá para se preocupar mesmo com tanta leveza em ser um coelho. Acho que a bibliotecária também vai se deixar levar.







quarta-feira, 5 de outubro de 2011

em segundos





sentindo você deitando sobre o meu peito com o cheiro de picolé vermelho na boca
lambido há tão pouco tempo que as batidas disparam em iminente ataque cardíaco
sempre soube que o amor foi aos poucos entupindo as veias estreitas do meu coração
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domingo, 2 de outubro de 2011

cadeiras enfileiradas.



As cadeiras enfileiradas da varanda que viravam trem, nave espacial, barcos, ônibus escolar, tanque de guerra, motocicletas...
.. E quando as brigas começavam elas voltavam a ser simples cadeiras desbotadas. Tudo era por conta do grande comandante das frotas : meu irmão, general-comandante-oficial-capitão incontestável do bairro.
Ontem foi aquela palhaçada! Joaninha apareceu vestida de bailarina e com seus tênis que acendem luzes, no alto dos seus quatro anos. E eis que Joaninha ganhou o sorteio e comandaria a frota do navio viking que invadiria o Brasil. Meu irmão é o maior ditador que eu conheço e disse que comandantes não andam por aí de cor-de-rosa. Novo sorteio e berros de Joaninha, que parecia uma espada riscando o ar.
Marina, a loira da rua e com olhos fulminantes de tão azuis, era a vencedora. Meu irmão disse que não sabia onde estava com a cabeça quando fez essa regra ridícula de sorteio, porque um dia antes ele tinha visto Marina beijar o banner do Robert Pattinson bem na boca ali na banquinha.
Marina disse que meu irmão é um feio e meu irmão desmanchou a chutes o barco viking.
E assim terminam todos sentados em cadeiras na varanda, com a cara enferruscada, feito vikings. E todo dia é assim, mas no outro dia todo mundo volta para enfileirar cadeiras.