domingo, 20 de novembro de 2016

As touradas de Madrid


nas paisagens longas que sobraram do planeta, anos e séculos se passaram.
os escombros datados, colunas de pó brilhante, restos como o sal do deserto.
o nada és Terra de ex-azul, essa cor-lembrança em dois astronautas miseráveis, retidos em estátuas voltando de algum confim.
quando da descida o azul se esmaeceu em fotos premiadas irreconhecíveis,
quando na descida explodindo os tristes homens azuis

o oceano agora era uma barba branca amarelada pelo alcatrão

e os astronautas pousaram.

e andaram sobre a Terra, agora mais chão, mais Terra voltou ao pó, pois grão de poeira espacial.
então caminharam com sede, fome e saudade.
e se arrastaram até encontrar a cidade perdida, fragmentos da outrora chamada Madrid.
mas eis que a única memória sobre a cidade eram pedras de um vermelho tão vivo que os cegou.
a Terra cuspia fora os corações dos touros mortos em Madrid.

os astronautas cegos nada mais viam,
nada mais eram,
em nada estavam ali.

domingo, 13 de novembro de 2016

A morte de Brasília




Vimos Brasília logo no início dos tempos - como os olhos de urubu na carniça, logo que o arquiteto desceu com seus olhos - esse não só olhos, mas o brilho - eu dizia, vimos Brasília logo no início como vêem os urubus, pois destroços. Destroços de corpos arruinados, a cidade era ruína, eu ia dizendo. Construída já ruína, arquitetada com o calor dos desertos dos trópicos. Brasília era areia. Moveu-se movediça através das histórias. Assim como os urubus, o traço da linha no papel, avião paperplane pegando fogo. O fogo dos trópicos, a desértica cidade perdida, arquitetura-arqueologia. As pessoas que lá estão, são elas os urubus e os nossos olhos. Nós, pássaros, pássaro, nós jamais voamos por sobre Brasília, pois de força bruta jamais se pisa e voa um sonho bom sobre Brasília. Eu ia dizendo o belo desenho, e ficou feio como um urubu sobrevoando a morte.

terça-feira, 8 de novembro de 2016

A abelha envenenada


De ti correm todos os rios
até aqueles fadados à lentidão
no esgoto das grandes metrópoles
você
direto ao mar
um bilhete desbotado de meia paixão

escorre feito lágrimas de própolis
junto a merda e devassidão
das estrelas de cinema
são cheias
seus rios de solidão