sexta-feira, 30 de abril de 2010

campeonato mundial de esquis

Com os esquis na neve rodopia azul o céu atrás.
Os mortais exageram em sussurros encapotados, enquanto o sol reflete no metal cegando qualquer susto.
No seu salto aparecerá o vento -
E seu amor cairá em pé de alta velocidade, atropelando a multidão.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

duas peças de Lego

Lu tira os patins e estende as pernas ao longo do sofá. Uma mesa lá atrás e o creme gosmento cobrindo uma bagunça sem igual. Aquele laranja escorrendo fino e pingando no chão enquanto dois olhares mudos observam pecinhas que se encaixam com substância. O chantilly velho encralacou nos talheres naquilo que já foi pelas manhãs. Lu olha para o irmão e estende as mãos com unhas pintadas de todas as cores :
- É só esfregar um pano.
- ...
- Ouviu ? Ninguém nota.
- mas a jarra quebrou.
- Tá vendo isso no tapete ?
- Hm ?
- Essas pecinhas...
- hm.
- Tudo é encaixaval.
- mas a jarra tá espatifada.
- Nós consertamos.
- Não acho que seja possível.
Leo vai até a mesa e lambe um garfo até ficar bem limpinho.
- E essa bagunça toda ?
- Depois a gente limpa.
- Como ?
- Ah, daqui a pouco.
- ...
Lu calça os patins e olha com aquele olhar que ele bem não entende. Ele olha também. Agora ela desliza pela casa enchendo a mochila com talheres, a toalha e caquinhos. Ele talvez ache que aquilo não é tão certo, mas que soluciona o seu desajeitado modo de sujar. Ele não controla e aí sai brincando com coisas que não consegue consertar. E na hora parecia tão divertido...
Talvez ele faça porque ela está aí. E ela sempre sabe o que fazer depois.
- Leo, jogue isso lá fora no lixão!
Ele obedece e quando volta ela passa um pano no chão com os pés de rodinhas.
Agora ele sente algo tal como se seu exército em miniatura estivesse todo a postos na sua frente. Um exército que não vai deixar ninguém gritar com ele.
E Lu está no comando.

sábado, 24 de abril de 2010

Predador

Quando não se tem mais o que fazer e o amor chegou feito um bárbaro :
evidenciar com frutas vermelhas e sangue a faca que rasga a carne.
Atraido à gaiola com champanhe e dor o seu animal instintinvo e atordoado, você
terá coroado com dentadas incisivas os requintes da própria bestialidade.
E se o seu sentimento for traduzido como calúnia, cale-se e ame nos becos, abortando seu choro grotesco nos nervos inchados.

O coração vai explodir e lançará engano, alterando a sensação de desdém da porta cadeada.
Pois assim trabalham os incautos - cortando a sí próprios com cacos de garrafas esvaziadas.
E na boca um batom de framboesas estragadas.

terça-feira, 20 de abril de 2010

" Já não se sonha mais com a flor azul "

Veja bem, eu andei uns cinco quilometros para comprar as ditas "flores azuis e pequenas como brincos" que você tanto disse que queria. Andei com rumo e ansiedade, calcado no momento de ver sua alegria. Andei como só andam os andarilhos atrás de um lugar que não existe. Não estou cobrando nada, pois aqueles infinitos quilometros me bastaram preenchendo minhas lacunas de melancolia. A euforia de um suposto amor. A euforia de um coração disparado de maratonista sem medalha. Trouxa. Quem em sã consciência corre sabendo que vai perder ? Só os apaixonados. Só os esperançosos. Os bobões. Voltando com flores azuis pequenas como brincos nas mãos cuidadosas, protegendo toda aquela fragilidade de um sol escaldante que queima sua têmpora suada, protegendo o improtegível. O amor renegado e azul, pequeno como brincos. Veja bem, não estou cobrando nada, mas pelo andar do relógio você não vem mais. Pelo meu ritmo cardíaco você não vem mais. Eu deveria jogá-las pela janela - seria o mais correto- mas há uma beleza infinita pairando sob meus pés com calos.

SAC - Amor

Caro cliente,

Esse item não faz parte do sortimento de 2010.
Por se tratar de um item antigo não temos disponível para venda.
Podemos enviar o catalogo de sentimentos que serão distribuídos ao longo desse ano, para isso precisamos do endereço completo para o envio.

Agradecemos a preferência.

sábado, 17 de abril de 2010

Dhaka Lovers

Em uma cidade sem céu, um vasto clamor espalha no chão. Seus cacos de diamantes, que você mantém por aparência, respingam um creme brilhante de insegurança. Em uma cidade sem estrelas, um vasto reino afunda seus versos em doenças incuráveis, em mares de luzes foscas que não darão conta de seus olhos enegrecidos. Seu maiores medos, mergulhados por preguiça, cospem orações que berram aos nossos habitantes - que já não se enganam mais. Em uma cidade sem ouvidos, moucos de amor...