quarta-feira, 13 de abril de 2011

bolinhas de gude, de Laís para Chico.








Chico tinha seis anos quando um par de olhos castanhos quase pretos brilhavam na sua cara, como bolinhas de gude vitoriosas, gritando para ele se comportar como um homem. As palavras soavam estranhas e perdidas neste espaço dos seis anos, Chico não entendia como uma menina de cabelos retintos e pele branca, da cor de travesseiros novos, poderia fazer seus ouvidos doerem igualzinho quando o avô ligava o carro com todo mundo já lá dentro. E Laís mandava como a mãe mandava a empregada enxugar o chão, de olhos arregalados e coração endurecido. Só que Laís também sabia ser menina e deixava uma escova de dente para ser compartilhada ou um bombom recheado, fingindo nem saber de Chico. Sozinhos, ela mandava e desmandava, transformando o medo em amor, sem nenhum entender o que era isso - mal sabiam eles que ninguém nunca vai entender. Durante três anos as bolinhas de gude batiam contra Chico, escovas de dente eram desgastadas e bombons sujavam o uniforme da escola. Até que Laís se foi e nenhum adulto explicou porque tudo se vai. O amor, escovas de dente, bombons. E Laís.
Ontem a noite perguntei porque Chico é calado e ele me disse :
" Estou com saudade de uma pessoa, mas não posso dizer quem."






terça-feira, 5 de abril de 2011

espinhas de peixe




Encontrei você sendo chuva e vulcão, escrevendo laços em uma caderneta amassada. Com um olho aberto e o outro fechado, acreditei dando mordidas em espinhas de peixe que transpassaram minha garganta, sufocando. Depois acreditei mais um pouco e abri as portas, a garganta e o outro olho. Mas já estava cega, já estava este morcego anêmico batendo contra a parede. Esperneando nos vãos, com estes espinhos que se instalaram como fim no peito, chamando isso de amor. E, enfim, desacreditei.