terça-feira, 22 de março de 2011

O cão





as artimanhas monstruosas me fogem a definição
deixando os pêlos nojentos no caminho de uma história sem coração

lambe os defeitos de uma alma perdida na escuridão
se alimentando dos restos de minha total solidão

prostrado diante do prato em quatro patas como qualquer cão
afia as unhas no teto do meu porão






terça-feira, 15 de março de 2011

Dois Corações.




nas suas voltas
espero no olho do furacão
crente que você possa me
amar
em qualquer canto
de um outro
seu
coração

isso explica meu sorriso à toa
com sons ciclones no meu ouvido Noa Noa

uma campainha, um zumbido, um telefone

é o seu outro coração
truque de minhas noites insones







sábado, 12 de março de 2011

avenida



Costumava cortar os braços para chamar a atenção de Deus. Vênus pintando o chão de um vermelho tão entediante, cor do seu ipad smart, extrapolado em e-books geniais lidos enquanto sangra devagarinho. Tem no armário metros de fita micropore 3M com a qual ela aplaca os traços para chamar a atenção Dele... se desconfia de um certo olhar. Cor de pele. Suicídio, que besteira, nada disso. Um perfume de um doce cortante cheira junto. Cheira junto. Neste exato momento pensa em se desconectar. Tenho certeza que Ele dorme. E eu vou sair para comprar um estilete.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Filme Japonês


Essa casa sempre me deu medo, mas esse meu ar esquivo não permite queixas. Ontem a noite, quando tudo parecia mais escuro do que estava, eu - falando assim por falar - acho que vi uma dessas crianças orientais esbranquiçadas pela morte dançando no corredor, segurando pequenos, deixe-me ver... pareciam... crayons nas mãos. Óbvio que ela estava com os pés molhados e tinha os cabelos terrivelmente escorridos, o que me fez acreditar com vivacidade na própria insanidade ou em filmes japoneses.
Agora tenho que levantar. Olhar o teto é esporte para escritores.
Jogo as pernas no chão sem vontade, estou torpe feito o que sou. A claridade que vem lá de fora, ihh...
Desisto de colocar roupas.
E a porta do quarto está pesada para mãos tão preguiçosas.
Meu olhar primeiro vai do chão para o olhar seguinte. E páro no primeiro instante.
Todas as paredes do corredor estão desenhadas na altura da minha cintura.