segunda-feira, 30 de agosto de 2010

a boca fechada e seus olhos castanhos

eu quero seus braços, seus filmes, suas luvas
o rosto vermelho cravando suas unhas
a supernova explodindo os mesmos riscos
um universo dormindo e um quarto de risos

eu quero seus lábios, seu livro, sua faca
os dedos cortados exalando ressaca
a lava subindo queimando suas mãos
certezas surgindo em becos e vãos

eu quero suas mentiras, seu perfume, seu salto
a boca fechada escondendo sobressaltos
eu desisto sem medo dos outros estranhos
colorindo com sangue seus olhos castanhos

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Ponte Aérea

Para Thiago Pethit




Versos modelam mapas em fôrmas de nuvens sobre São Paulo, evaporando pensamentos que dão a volta ao mundo em dez partes, gentis como cores desconhecidas. Buenos Aires é uma nobreza pelos cantos em cafés que escondem cubos de açúcar instigando distrações. Liquices e chocolates quentes agora vão desmoronar qualquer esquecimento. Três bebidas atrás o escritor se redime com mais uma idéia rimada em quatro estrofes geniais. Uma vespa amarela passa com um rapaz de ipod brilhante mascando mm’s, explodindo olhares em atenção. A canção tristonha o faz chorar. Dói porque é bela e lembra qualquer coisa que faz amar.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Ludo

Ludo rasgou o pacote de figurinhas que vem dentro das panquecas do Shiva's.
Uma luz neon fez seus olhos brilharem e ele observou cada uma delas com a atenção devida só dada aos gurus.
Ludo meditava. Seu sonho era morar no topo da montanha azul de neve alaranjada que ele enxergava da janela. E comer só panquecas.
Ele se imaginava em constante levitação, constante sombra de Lótus.
Panquecas de queijo soltavam cheiro pelas mesas lotadas. Ludo meditava. Chefs vestidos com túnicas brancas arremessavam e elas giravam feito bússolas em direção ao monte.
Ludo queria passar a vida comendo panquecas.
até completar o seu álbum.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

no céu da minha boca uma língua em espasmos peçonhentos

desenrolo caramelos e anuncio novidades ao céu da minha boca.
já tão acostumado a sua língua venenosa...
... secou de saliva esperando amor ou qualquer outro tóxico que vier.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

a casca do caracol

Ela cravou seus olhos nele. Aquele olhar de pedras escondidas em sarcófagos desconhecidos. Um olhar de milhões de anos. Logo, ele não sabia nada do que significava tudo isso. Nem o esgar. Nem o desconforto. Nem o silêncio do gesto. De todas as expressões que sucedem o fim, a calma se torna a mais fatídica de todas. E não há choro, não há gritos, não há nenhum rumo a seguir. O que ele sabia, no entanto, era que tudo fenecia. E sua vontade de algumas semanas atrás de cavar fundo no interior dela para chegar em alguma verdade, se esvaiu feito uma casca de caracol sendo esmagada por pés bem firmes. Ela tinha se abrigado em lugares inalcançáveis, onde nenhum homem seria capaz de chegar. Um lugar onde o alívio não está. A beleza não chega. E, ora, nenhum coração pode superar tamanha solidão.
Foi então quando ele entendeu.
E ela seguiu feito uma lesma com aquele rastro prateado e viscoso, mas decidido. Não se sabe quando ela chegará ao fundo do labirinto, mas isso não interessa mais a ele. Talvez, daqui outros milhões de anos, um arqueólogo cansado tirará a pedra certa e os olhos ofuscados dela descubram uma luz que alguém poderá titular como o novo sentimento humano.
Outra hora chamado erroneamente de amor.