segunda-feira, 18 de março de 2013
As garras de uma mulher
Pulseiras caindo em sobras de champagne, maus modos e perfumes. Os homens, aterrorizados, definham em um tapete carcomido por ácaros e lobos noturnos. Babam infinitos dotes que deixam escorrer dos bolsos, sem nenhum esforço, resignados. Ninguém é como Lívia. As suas mãos estão prontas com a força da devassidão. A imensurável beleza que explode paredes bem pintadas, de casas sólidas, explodindo filhos, outras mulheres, neuróticas preocupadas. Lívia se cobre de ouro e visgo. Ela veste as dores dos outros. Enriquece às gargalhadas. São veludos vermelhos que adornam seu quarto arruaceiro, sua vida escarlate. Atrás deles, os conformados, vêm objetos ruindo. E lá na frente Lívia exibe o brilho de suas garras.
sábado, 2 de março de 2013
O Começo do Livro.
Cansado, enrolado em bitucas de um cigarro vagabundo, enlameado por copos vazios, uma sujeira incandescente vagando pelos cantos. Silvio estava cansado. Cansado de procurar o começo do livro, perseguido por ruas escuras de uma vida sem saída. Foi quando teve a derradeira ideia - colocar fogo sobre o edifício que se sustentava ao seu lado. A madeira velha, o telhado antigo, as janelas pintadas de branco, disfarçando decadência e sonos mal dormidos. Silvio se levanta da cadeira, fuma sem parar e joga com as brasas de tiros alaranjados. Homem sem pena. Colocar fogo sobre aqueles que não o conhecem, os disfarçados, as cortinas cerradas, os cegos que não podem ler, a sua história que não ele não consegue contar. Silvio atira fogo pela janela, um bombardeio de fumaça e ficção. Os bombeiros foram chamados às quatro e treze da manhã, as labaredas já lambiam o céu estrelado. Silvio começou a escrever um livro - amanhecendo sobre a luz que brota de restos.
sexta-feira, 1 de março de 2013
Garotas Ruivas no Fuso Horário de Tokyo
Um tilintar de xícaras, efusões e noções argumentativas sobre a vida. Cerejeiras destruídas por mãos fortes e delicadas. Os dias nascem aos gritos, em horários nunca antes conhecidos. Ao seu modo, sobreviver com café forte, cigarro e textos proibidos. Uma explosão de luzes sobre olhos fechados. Desço a rua comprar balas, caminho sobre os restos de uma fábrica em perfeito funcionamento, sou atirada à cães e prostitutas. Um homem de terno bem acabado descobre meu esconderijo, puxa uma faca e atira certeiro sobre meu coração tatuado.
segunda-feira, 7 de janeiro de 2013
O peixe de olhos esbugalhados.
Notou um brilho na ponta de seus cabelos, pareciam cobertos de geleia de laranja. Mantinha as mãos nos bolsos, disse que não queria café, não queria comer e não tinha sede, só sentia frio. Paulo nada notava, a esposa sempre foi assim, uma floresta inóspita cheia de mistérios e bichos arredios.
Laura perdeu a aliança enquanto as ondas batiam em suas costas. Ninguém consegue manter a mão no bolso por tanto tempo. Também não faz tanto frio assim no verão, nem se consegue viver para sempre de amor, a casa pede a mesa posta, os alicerces seguros e rumores serenos.
No começo do inverno um peixe de olhos esbugalhados engoliu um anel de ouro.
Paulo quebrou um dente ao sair para jantar.
segunda-feira, 26 de novembro de 2012
O canto do canarinho.
A janela do meu quarto é baixa e, mesmo que fosse alta, ele não liga. Salta com a gordura balançando e a destreza dos sábios. Júlio tem ares olímpicos. A janela fica aberta, mesmo com esse frio, só para ele entrar. Todo dia ele me traz um passarinho morto. Morto. Eu não consigo explicar a minha dor, a dor das coisas mortas, das penas se soltando, do peito azul. Outro dia um bem pequeno ainda teve tempo de se debater sobre o edredom da cor do céu, no meu peito. Ele ainda olhou para mim, com esse olhar que só os gatos têm. Estava me olhando e tentando me explicar cada presente. "Um dia ainda te trago um canarinho cantando pela última vez e você vai entender o tamanho do meu amor ".
terça-feira, 13 de novembro de 2012
Popball
jogando popball
garotos inteiros sem camisa
com o sol
intimidando
outros lindos que jogam futebol
no rádio uma bola de ping-pong
cai
it's amazing Britney's song
enquanto isso na sacada
as meninas rãs
rasgam sutiãs
tão queimadas
sexta-feira, 9 de novembro de 2012
100 m da linha do equador
Quente, quente, quente. Daqui, olhando para o alto, o teto tem uma fenda de onde o sol entra e risca a linha do equador bem no meio da piscina. Abaixo os erros estão todos embaralhados. "Uma menina de treze anos não pode ter esse olhar tão incessante sobre curvas e estrelas". Os peitos nus dos atletas incansáveis, medalhas douradas, um mar de suor e o desejo te derrota. Braçadas, braçadas, braçadas. Meu nariz está encostado no vidro embaçado. Sabe, seu olhar frio deixa esse calor mais ameno...
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