Enquanto eu corria atrás de você havia uma força descomunal que me empurrava para a frente e transformava os campos e prédios em mera ilusão. Os caminhos estavam abertos e holográficos. Eu atravessava portas como o vento leva sacolas de plástico para fios de luz. Seu corpo de estrias e belo como um círculo de fogo alimenta animais domesticados esquecidos de suas raízes selvagens. Eu corro atrás de você porque suas cores são livres feito um navio em alto mar. Seus laços estão soltos e encharcados do sangue de uma velha batalha. Moça, não sei o que você pensa de mim, mas a piscina onde todas as outras mergulham está em P&B e seu céu é que está caindo sobre mim na matiz perfeita. Creio que estou no caminho ilusório perfeito, esperando o momento que você olhe sobre os ombros e vê quem está logo ali, pronta para o golpe perfeito, estraçalhando sua pele até arrancar seu coração para devorá-lo no centro da cidade.
segunda-feira, 2 de dezembro de 2013
sexta-feira, 2 de agosto de 2013
Os Sepulcros de Deus - Capítulo I Versículo 1
Nos fins dos séculos passados encontrei em pequenos pedras, papiros ou folhas amareladas um pequeno átimo do bem - esse farsante - que você me trouxe. No talho rasgado de letras quase apagadas você dizia algo eterno sobre nós, a ser contado em livros de história. Agora eu acordei em outro lugar, outro tempo, outro fim. Em 2013 tudo era contado em romances best-seller, cinco estrelas da crítica que me olhava de canto. Há alguns dias carregava na carteira um bilhete com a sua palavra. Mandei que Deus se calasse quando adentrei em seu sepulcro. Ele disse que nada pode fazer se eu não suporto nenhuma verdade.
quinta-feira, 1 de agosto de 2013
segunda-feira, 20 de maio de 2013
nos dias que atravesso o quintal de sua casa
piso na seiva
com a força de um formigueiro
sujando as meias
com torrões do seu corpo inteiro
pés de chá crescem
e enrolam até os joelhos
vestem meus passos
descalçam seu cheiro
com a mão na terra
arranco esmeraldas
que alimentarão meus dias
e os fins de madrugada
presa, sufocada
com essas pedras furando por dentro
morro ali estirada
na grama do meu enterro
depois de morta
lembro
como quem não quer nada
que seus olhos são tão verdes
( como uma cilada )
quinta-feira, 16 de maio de 2013
terça-feira, 14 de maio de 2013
Incêndio
O corredor fechado assombra um vento
extinguindo pegadas a esmo
das vigas de um teto vermelho
e espalha na direção contrária
zumbidos, gritos e árias
sobre escadas, corpos e cinzeiros
um mar de luz enlouquece a vista
na distância entre andares, jatos e vilas
o medo que cai sobre a sina
de estar só
e desmaiar
intacto
sobre este pó
quarta-feira, 3 de abril de 2013
A areia da praia.
Jorginho morava tão longe da praia que a areia entrava miudinha em seus ouvidos, então ele sacudia a cabeça, pensando naquele zumbido de inseto pequeno. O mar ficava tão longe de sua casa quanto o fundo do céu.
Quando Jorginho balançava a cabeça os pensamentos balançavam também. E o mundo ficava tão longe quanto a praia. Ali, na beirada do desconhecido, a orla colorida onde banhistas de unhas pintadas pisavam com cuidado, como se tivessem de salto alto, atordoadas de beleza.
Era o que Jorginho ouviu falar, mas seu ouvido estava trancado e ele não tinha certeza. Seu olhar alcançava bem mais longe, depois dos desfiladeiros, onde os pensamentos chacoalhados iriam param. Dessas coisas que mal se ouve falar os pensamentos entendem bem. E a praia ficava distante, coberta de redes de pescadores, cheias de mulheres peixes, onde os nadadores olímpicos vão parar depois de beijarem medalhas e sereias douradas.
segunda-feira, 18 de março de 2013
As garras de uma mulher
Pulseiras caindo em sobras de champagne, maus modos e perfumes. Os homens, aterrorizados, definham em um tapete carcomido por ácaros e lobos noturnos. Babam infinitos dotes que deixam escorrer dos bolsos, sem nenhum esforço, resignados. Ninguém é como Lívia. As suas mãos estão prontas com a força da devassidão. A imensurável beleza que explode paredes bem pintadas, de casas sólidas, explodindo filhos, outras mulheres, neuróticas preocupadas. Lívia se cobre de ouro e visgo. Ela veste as dores dos outros. Enriquece às gargalhadas. São veludos vermelhos que adornam seu quarto arruaceiro, sua vida escarlate. Atrás deles, os conformados, vêm objetos ruindo. E lá na frente Lívia exibe o brilho de suas garras.
sábado, 2 de março de 2013
O Começo do Livro.
Cansado, enrolado em bitucas de um cigarro vagabundo, enlameado por copos vazios, uma sujeira incandescente vagando pelos cantos. Silvio estava cansado. Cansado de procurar o começo do livro, perseguido por ruas escuras de uma vida sem saída. Foi quando teve a derradeira ideia - colocar fogo sobre o edifício que se sustentava ao seu lado. A madeira velha, o telhado antigo, as janelas pintadas de branco, disfarçando decadência e sonos mal dormidos. Silvio se levanta da cadeira, fuma sem parar e joga com as brasas de tiros alaranjados. Homem sem pena. Colocar fogo sobre aqueles que não o conhecem, os disfarçados, as cortinas cerradas, os cegos que não podem ler, a sua história que não ele não consegue contar. Silvio atira fogo pela janela, um bombardeio de fumaça e ficção. Os bombeiros foram chamados às quatro e treze da manhã, as labaredas já lambiam o céu estrelado. Silvio começou a escrever um livro - amanhecendo sobre a luz que brota de restos.
sexta-feira, 1 de março de 2013
Garotas Ruivas no Fuso Horário de Tokyo
Um tilintar de xícaras, efusões e noções argumentativas sobre a vida. Cerejeiras destruídas por mãos fortes e delicadas. Os dias nascem aos gritos, em horários nunca antes conhecidos. Ao seu modo, sobreviver com café forte, cigarro e textos proibidos. Uma explosão de luzes sobre olhos fechados. Desço a rua comprar balas, caminho sobre os restos de uma fábrica em perfeito funcionamento, sou atirada à cães e prostitutas. Um homem de terno bem acabado descobre meu esconderijo, puxa uma faca e atira certeiro sobre meu coração tatuado.
segunda-feira, 7 de janeiro de 2013
O peixe de olhos esbugalhados.
Notou um brilho na ponta de seus cabelos, pareciam cobertos de geleia de laranja. Mantinha as mãos nos bolsos, disse que não queria café, não queria comer e não tinha sede, só sentia frio. Paulo nada notava, a esposa sempre foi assim, uma floresta inóspita cheia de mistérios e bichos arredios.
Laura perdeu a aliança enquanto as ondas batiam em suas costas. Ninguém consegue manter a mão no bolso por tanto tempo. Também não faz tanto frio assim no verão, nem se consegue viver para sempre de amor, a casa pede a mesa posta, os alicerces seguros e rumores serenos.
No começo do inverno um peixe de olhos esbugalhados engoliu um anel de ouro.
Paulo quebrou um dente ao sair para jantar.
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