Acuada e nervosa como uma gata presa espero às seis, às sete, às oito e, finalmente, às nove. Bem no horário que você me disse que chegaria - chegou. As outras batidas do relógio de parede eram só esperanças rançosas de que o mundo estaria armando para me surpreender.
Chegou assim, com aquela barba por fazer, despontada, hirsuta. Caminhava com aquele ar de gangster encrassado na descendência italiana, mas os seus olhos juvenis denunciavam a delicadeza com que eu seria tratada. Ou pelo menos acreditava que era tratada. Não tenho dúvidas. Ele abriu a porta e eu apontei o beiral da janela coberto de besouros pretos - aquelas asas crocantes e o zumbido ensurdecedor colidindo contra as janelas que transformam minha noite num espetáculo de terror. Ele vai agir e se esgueira por trás da cortina de um tecido fino e inútil que só servia para tapar o sol com a peneira e colhe os besouros para me acalmar. No seu pensamento sequer passava a idéia de me magoar com análises sobre meus dramas diários e transformá-los em pequenos chiliques incompreensíveis. Ele simplesmente compreende. E sentada no sofá eu estava quase satisfeita.
Eu não vou dizer nada e de dentro do seu bolso carcomido ele vai retirar alguma coisa para me agradar e eu nem lembro de perguntar que cheiro é aquele na sua roupa. Dessa vez um colar de aspecto barato e um pingente de bacalite escrito “Diamond” me enrubesce e, indecisa, já sei que é a hora de tirar a roupa.
O ar está espesso como xarope de groselha e meu movimento lento chega no seu rosto. Tenho medo desse mundo áspero, mas vou colher seu desejo com minha boca gemendo sobre seu peito. Como você faria se eu pedisse...
... mas nem precisa.
Um comentário:
upa!
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