quarta-feira, 5 de outubro de 2011

em segundos





sentindo você deitando sobre o meu peito com o cheiro de picolé vermelho na boca
lambido há tão pouco tempo que as batidas disparam em iminente ataque cardíaco
sempre soube que o amor foi aos poucos entupindo as veias estreitas do meu coração
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domingo, 2 de outubro de 2011

cadeiras enfileiradas.



As cadeiras enfileiradas da varanda que viravam trem, nave espacial, barcos, ônibus escolar, tanque de guerra, motocicletas...
.. E quando as brigas começavam elas voltavam a ser simples cadeiras desbotadas. Tudo era por conta do grande comandante das frotas : meu irmão, general-comandante-oficial-capitão incontestável do bairro.
Ontem foi aquela palhaçada! Joaninha apareceu vestida de bailarina e com seus tênis que acendem luzes, no alto dos seus quatro anos. E eis que Joaninha ganhou o sorteio e comandaria a frota do navio viking que invadiria o Brasil. Meu irmão é o maior ditador que eu conheço e disse que comandantes não andam por aí de cor-de-rosa. Novo sorteio e berros de Joaninha, que parecia uma espada riscando o ar.
Marina, a loira da rua e com olhos fulminantes de tão azuis, era a vencedora. Meu irmão disse que não sabia onde estava com a cabeça quando fez essa regra ridícula de sorteio, porque um dia antes ele tinha visto Marina beijar o banner do Robert Pattinson bem na boca ali na banquinha.
Marina disse que meu irmão é um feio e meu irmão desmanchou a chutes o barco viking.
E assim terminam todos sentados em cadeiras na varanda, com a cara enferruscada, feito vikings. E todo dia é assim, mas no outro dia todo mundo volta para enfileirar cadeiras.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

para as luzes amarelo-cinzentas


D. fechou a porta e deixou atrás o som de cem mil trancas. Não estava irritado com tudo, nem tinha a verve dos maus pensamentos, mas essa solidão que voltar das ruas lotadas infringiam nele deixavam esse rastro. Sentia o hálito das entradas das casas e os vidros das janelas que esfumaçavam pessoas. Já havia notado que S. havia chegado. O frêmito voltava e arqueava suas costas. As decisões - elas pediam para serem tomadas, velozes como patins no gelo. Chegou na ante-sala e olhou para a mesa onde uma xícara ainda cheia de chá repousava sozinha, deixando a sensação de ter sido esquecida às pressas. Viu também M. passar com uma cesta de frutas adocicadas pela porta, sem notá-lo, como costume. Pensou como seria esmaecer no amarelo-cinzento das luzes da noite e sair dali sem precisar contar o inevitável. "Querida S., amar é para os leigos".

terça-feira, 20 de setembro de 2011

máquina do tempo




a agulha espetada no sofá furou seu olho
você não vê nada
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meu corpo caído
meu coração ensanguentado
meu filme proibido

o festim do meu amor
no céu estrelado





sexta-feira, 16 de setembro de 2011

para você, cortar os pulsos



esta chuva de napalm esta chuva de arrepios
há duas quadras e meia deste
apartamento
quase vazio

onde um corpo em cimento
e apocalipse
é marcado com pegadas de vaca
no cio

este corpo animal este corpo de merda
dois centímetros de um faca
que corta
na medida certa



domingo, 11 de setembro de 2011

os becos de Paris



um pelotão de bicicletas brilhava meu cabelo ruivo através de aros dourados, naqueles tempos. chuva e asfalto resplandecendo gotículas de um chão estrelado e marcas de rodas nas voltas ciclistas. eu tinha lá minha vergonha dos cabelos cor de laranjas caídas e da bola de futebol. dada a ingleses, latinos e inadaptados à bibliotecas. Paris não era sempre essa festa toda me deixando nervoso assim. e meninos com os dedos adocicando páginas e mais páginas. e o rosto salpicado me dava nos nervos. estavam todos absorvidos pela volta e eu olhava o mundo redondo e o cabelo encharcado de fogo. havia uns café abarrotados e uns escritores discutindo feio. um cinema um tanto abarrotado também de mentes pensando e um arco depois. se eu andar bem devagar ninguém me nota com tanta luz.

sábado, 3 de setembro de 2011

tenho os nervos também de aços



Impacientemente esperando : nada. Onde os relógios continuam tiquetaqueando viciosamente. O mar longínquo espelhando uma cor assustada, livre para deslizar navios afundados em falsas calmarias. Tenho os nervos também de aços, carcomidos pelo tempo que constrói conformidade.