As cadeiras enfileiradas da varanda que viravam trem, nave espacial, barcos, ônibus escolar, tanque de guerra, motocicletas...
.. E quando as brigas começavam elas voltavam a ser simples cadeiras desbotadas. Tudo era por conta do grande comandante das frotas : meu irmão, general-comandante-oficial-capitão incontestável do bairro.
Ontem foi aquela palhaçada! Joaninha apareceu vestida de bailarina e com seus tênis que acendem luzes, no alto dos seus quatro anos. E eis que Joaninha ganhou o sorteio e comandaria a frota do navio viking que invadiria o Brasil. Meu irmão é o maior ditador que eu conheço e disse que comandantes não andam por aí de cor-de-rosa. Novo sorteio e berros de Joaninha, que parecia uma espada riscando o ar.
Marina, a loira da rua e com olhos fulminantes de tão azuis, era a vencedora. Meu irmão disse que não sabia onde estava com a cabeça quando fez essa regra ridícula de sorteio, porque um dia antes ele tinha visto Marina beijar o banner do Robert Pattinson bem na boca ali na banquinha.
Marina disse que meu irmão é um feio e meu irmão desmanchou a chutes o barco viking.
E assim terminam todos sentados em cadeiras na varanda, com a cara enferruscada, feito vikings. E todo dia é assim, mas no outro dia todo mundo volta para enfileirar cadeiras.