domingo, 5 de junho de 2011

Zoom





Luiza agora tinha um namorado. Loiro, alto e com uns olhos azuis preguiçosos. Zoom estava estranho, ressabiado, seus pêlos caiam em escala sufocante. O tapete branco da sala cuspia agora bolas cinzas como se fosse uma torneira. Luiza dava uma volta pela casa, passava o aspirador na sala, dava outra volta pela casa e lá estavam as bolas cinzas no tapete. Luiza olhava para o lado e Zoom olhava para ela, parado como uma esfinge, na frente da porta. E ela não conseguia entender de onde um gato de pêlo curto tirava tanto pêlo. E ela não via Zoom no tapete. De onde esse gato tem tanto pêlo?
Marcos chegava a noitinha, trazendo sempre um pacote de pão com cheiro doce. Mas Zoom achava ele um boboca, reservando um olhar felino bem cruel para aqueles olhos esmaecidos. Zoom achava aquele cheiro doce enjoativo.
Depois da porta fechada, Zoom andou em círculos pelo tapete a madrugada toda.
Pela manhã, Luiza tinha um tapete cinza e um pequeno mostrinho de olhos feridos na sua sala, sem pêlos. Ela deu um grito e mandou seu namorado ir embora. E que nunca mais voltasse.












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