terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Biografia

Engasgo com um suspiro e uma turba de pérolas desce uma escada coberta de veludo vermelho. As meninas esperam lá em cima e acenam freneticamente como se não importasse o açucar em volta da minha boca. Sinto um olhar mais direto e desconfio de um desejo calado para sempre. Já estou lá em cima e sou agarrada pela cintura por quatro mãos, enquanto uma outra passa os dedos nos meus lábios. Meus olhos sempre tão tímidos encolhem minhas mãos e meu corpo não reage a nada, apenas sigo o fluxo. Em um dos quartos algo nos espera e eu torço por algo que meu silêncio não perturbe. Nem a mim, nem a ninguém. Meu coração de vidro congela e uma artéria jorra rubis ensandecidos. A porta abre e meninas entram arrancando os saltos. Vou para o canto onde minhas trevas e meus sapatos não conspiram contra nada. Uma delas vai insistir na minha mudança abrupta, para dois meses depois se queixar de não ter conseguido uma só insensatez da minha parte. Embora a minha sensatez seja o insensato descendo as escadas nos olhares debochados. Elas conspiram e telefonam exigindo algo novo todo dia. Como se fosse possível arrancar sardas e cabelos ruivos de uma criança assustada.

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