Os meninos estão sozinhos em casa. Aquela fumaça de calor sobe do piso lá fora formando figuras fantasmagóricas que se esvaem com pensamentos bons. Embora ele seja um ano mais velho é bem menor que o irmão, mas seus braços cresceram tanto... O dedo do riste encosta na água morna e azul. O reflexo dá o tempo necessário para o drible antes do empurrão. Agora, eles correm em volta dela. A recomendação é que não se atrevam a desobedecer a ordem de não entrar na piscina sem os adultos em casa. Faz 36°, ora bolas. O maior pulou dentro e espalhou desobediências por toda a borda azulejada. O menor riu e correu para dentro buscar o jacaré vermelho, o macarrão vermelho, os óculos de mergulho rachados. Voltou batendo o recorde mundial dos 100 m rasos. E corria. E corria. E corria contornando o retângulo perfeito no qual entraria e aplacaria a dor do verão. Os olhos fechados de menino que corria. Depois de não-sei- quantas-voltas rodopiou preparando o pulo com todas aquelas coisas vermelhas na mão e os olhos embaçados. Porém, um átimo antes do salto o pensamento bom expirou e a imagem era fosca e azulada. Os meninos estão sozinhos em casa. O objetos avermelhados ficaram pesados e não deixavam ele imergir também. Ele tentou erguer o irmão lá do fundo, mas sentiu o peso de ser o mais velho, um sufoco no pulmão esclareceu que deveria ter dado menos voltas e deixou-se afogar também.
quarta-feira, 7 de outubro de 2009
sábado, 3 de outubro de 2009
Fim.
No ponteiro menor marcava 17 minutos. Puxei a camisa, ajeitei, coloquei para dentro. Olhei os pés de cima, sem meias. Apareciam as pontas dos dedos saindo da barra da calça, muito grande. Desviei a cabeça para o lado e observei ao meu redor, novamente. A casa vazia. Duas malas em pé, esperando a saída. Os pés descalços. Os chinelos já estavam na mala e as meias também. Senti pela enésima vez um frio subindo.
Não deve ser a falta de meias. Os pés descalços. Os chinelos na mala.
Fiquei assim sem mais. Plantado. No ponteiro menor marcava 25 minutos. Não adianta ir até a cozinha tentar matar a sede, os copos já foram levados. As frutas foram jogadas.
Então, por que ainda estou aqui ? Não consigo mexer um dedo mais.
Um barulho de meia hora me desperta. Foi uma engrenagem. Um tic-tac.
Se eu não quero sair é porque estou descalço e não há mais nada lá fora também.
Não deve ser a falta de meias. Os pés descalços. Os chinelos na mala.
Fiquei assim sem mais. Plantado. No ponteiro menor marcava 25 minutos. Não adianta ir até a cozinha tentar matar a sede, os copos já foram levados. As frutas foram jogadas.
Então, por que ainda estou aqui ? Não consigo mexer um dedo mais.
Um barulho de meia hora me desperta. Foi uma engrenagem. Um tic-tac.
Se eu não quero sair é porque estou descalço e não há mais nada lá fora também.
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