segunda-feira, 25 de julho de 2016
A Onda
Imagine 1996 tatuado em mim.
Os anos passam e tudo fica velho, mas tudo começa novo, não é ? Essa semana que nos encontramos duas vezes e o tempo deslizou como a prancha de um surfista em uma onda perfeita.
O dobro da minha idade se aconchegando nos nossos braços tímidos encostados no cinema.
Imagine 2016 tatuado em mim.
sábado, 26 de março de 2016
Verbo
você era alguém que cabia em meus sonhos
você é alguém que cabe nos meus sonhos
você será alguém que caberá nos meus sonhos
enquanto você dorme, eu sonho
segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016
Naufrágio.
Em tempos que não nos concernem , descobri seu paradeiro.
Chego como um náufrago mal alimentado, sujo, ensopado, bronzeado feito um antiquário em decomposição.
Atravessando a tempestade, eu, aquele que descobriu seu paradeiro.
Seus seios ilhados, suas pernas acobertadas.
Um amor de elos perdidos em tempos modernos.
Eu, este náufrago. Somente seu, estes tempos.
segunda-feira, 8 de dezembro de 2014
O desaparecimento do monstro de cortinas drapeadas
Para Ana Paula Málaga e seu "Diário Externo"
Quando éramos crianças, quando a noite cai, eis a escuridão cremosa de nossos quartos. Seu visco pesando cobertores coloridos e afundando os travesseiros penosos.
O súbito esgar da cisma cai sobre lençóis lácteos e macios. A negritude firme e constante vagueia pelo tempo interminável.
E o monstro de cortinas drapeadas surge.
A sombra do seus dentes afiados morde o teto.
A luz que atravessa a janela é tênue e alarmante, pois não se sobressai nem sob súplicas infantis.
Nem que se reze baixinho.
O sono poderia nos salvar, mas ele demora, está tenso e atrasado.
E o monstro de cortinas esvoaçantes se mexe. A sombra dos seus dentes morde a parede.
O tempo escorrendo pelos vãos dos tacos.
A memória, esta sim, é ligeira como um coelho em campos abertos.
As pernas do monstro são estampadas de flores. E ele não fica tão feio assim.
Mas eu cubro a cabeça.
Porque eu ouço passos.
Eles pisam no tempo entre os tacos.
Os cobertores ficam mais pesados.
Seria o monstro de cortinas drapeadas e sombra de dentes afiados ?
Meus olhos escorrem para fora, bolinhas de gude batendo contra a parede.
E duas mãos doces estão enrolando o monstro de cortinas drapeadas.
A cara enrugada do monstro desaparece.
E as mãos trouxeram um copo bem cheio de sono
(Agora, adulta, esfrego os olhos)
e durmo com a lembrança clara
como a luz acesa de um quarto
lembro das mãos de minha mãe
vencendo
o monstro de cortinas drapeadas
sexta-feira, 24 de janeiro de 2014
supermercado lovers
eu e você no supermercado você abrindo a garrafa de Coca-cola ali mesmo porque estava muito quente porque o atendente disse que podia e com esse seu batom vermelho qualquer atendente diria que 'tudo bem, pode tomar' você andando pela gôndola de doces e dizendo que não iria levar nada porque tinha parado com os doces mas pegou um chocolate que vinha com uma figurinha do blade runner e esse era só para mim você andando por todos os corredores e as pessoas sempre olham não é você sempre censurando meu silêncio e como eu nunca digo nada você acabou me levando embora como você olha para um produto novo que você compra porque o nome é esquisito fica parada na frente dele por um tempo olha para os lados procurando censura e perto do caixa você ainda pegou um pacote de pipoca de microondas porque ainda assim ficava em conta
segunda-feira, 2 de dezembro de 2013
Olimpíada
Enquanto eu corria atrás de você havia uma força descomunal que me empurrava para a frente e transformava os campos e prédios em mera ilusão. Os caminhos estavam abertos e holográficos. Eu atravessava portas como o vento leva sacolas de plástico para fios de luz. Seu corpo de estrias e belo como um círculo de fogo alimenta animais domesticados esquecidos de suas raízes selvagens. Eu corro atrás de você porque suas cores são livres feito um navio em alto mar. Seus laços estão soltos e encharcados do sangue de uma velha batalha. Moça, não sei o que você pensa de mim, mas a piscina onde todas as outras mergulham está em P&B e seu céu é que está caindo sobre mim na matiz perfeita. Creio que estou no caminho ilusório perfeito, esperando o momento que você olhe sobre os ombros e vê quem está logo ali, pronta para o golpe perfeito, estraçalhando sua pele até arrancar seu coração para devorá-lo no centro da cidade.
sexta-feira, 2 de agosto de 2013
Os Sepulcros de Deus - Capítulo I Versículo 1
Nos fins dos séculos passados encontrei em pequenos pedras, papiros ou folhas amareladas um pequeno átimo do bem - esse farsante - que você me trouxe. No talho rasgado de letras quase apagadas você dizia algo eterno sobre nós, a ser contado em livros de história. Agora eu acordei em outro lugar, outro tempo, outro fim. Em 2013 tudo era contado em romances best-seller, cinco estrelas da crítica que me olhava de canto. Há alguns dias carregava na carteira um bilhete com a sua palavra. Mandei que Deus se calasse quando adentrei em seu sepulcro. Ele disse que nada pode fazer se eu não suporto nenhuma verdade.
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