sexta-feira, 28 de setembro de 2012

A Pele









um velho se esquiva cambaleando entre esculturas de areia

recolhe garrafas de whisky que escondem bilhetes desesperados

sua barba branca se espalha na praia

onde os náufragos exibem a pele queimada

a vida amaldiçoada

espelhando o cansaço no mar
















quinta-feira, 30 de agosto de 2012

A neve que cai dos seus olhos









Um coração endurecido de frutas secas, a fumaça, os damascos, o aroma da neve que cai dos seus olhos, indo embora. As meninas estão insistindo nesses sapatos vermelhos, jeans , acessórios, camiseta ...
... um tropeção afasta meu olhar e corro o risco das suas pegadas de sangue, suor e lástimas para um último cigarro. Tipicamente femininas. 
Saio de cena com uma dor de cabeça que atravessa as ruas, palavras nas costas e um desdém que corta os meus pulsos.















sexta-feira, 27 de julho de 2012

A noite













enrolo nos dedos seus dedos de monstro invisível
um corpo plastificado
superstar marcada de dentada insensível
em hálitos de halls vinho combustível
passos que se arrastam bestificados
um dente cai no chão
um soco
um tornado











segunda-feira, 2 de julho de 2012

as frestas que dão para o céu.









nenhuma certeza que alguma brisa sopre a seu favor

lê seu conto aquartelado deitado no chão
vivendo a ferro e soro
sem pão e sem mel
vislumbra por vãos o fogo

do lugar que chamam de céu












terça-feira, 15 de maio de 2012

Grand Canyon


olhando de canto o parapeito de um desfiladeiro
o bicho inquieto me lembra você
moças furtivas veludos jeans um brilho arteiro
o olho indiscreto me lembra você
vitrines doces noivas armas um silêncio certeiro
o zumbido do afeto me lembra você
o lixo da esquina o cheiro um bueiro
o som de um inseto me lembra você

frases no azulejo imundo de um banheiro
e meu peito infecto me lembra você

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Duelo



sob o instant karma cor de abacate
um amor que em revólver
é bala que se enrosca na garganta
em xeque-mate

sob algum signo inconstante que te envolve
é o meu lado mau sedenta a vontade
em mim
em você
mate

sábado, 24 de março de 2012

o sangue na soleira da porta









No meu quintal tem uma amoreira carregada...
... mas o vento uivou a noite inteira e eu tenho medo que cada uma tenha caído e espatifado na grama queimada pelo sol escaldante - a última tarde em que você esteve aqui.
De manhã abri a janela e ela esmagava com os pés adocicados cada uma delas no chão.
Só esse tipo de vadia anda assim descalça, pegando fogo.