segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

A volta dos sete astronautas

2029. Logo aqui, perto das estrelas, perto de um negrume que só o universo estampa feito um tinteiro derramado, impreciso, sobre o papel branco. De vielas e becos foram feitos os pontos brancos chamados Outros Planetas, habitados por robôs adormecidos, orbitados por naves que sobrevoam sem tocar o chão.
O ano é dois mil e vinte e nove. Perto de um mundo esquecido logo ali, passado.
A Terra, sozinha como um ego que não cabe em sí. Os Outros Planetas, água impotável, ar pesado, areia vermelha, vulcão extinto, restos de mares milenares.
O ano é 2029.
Astronautas tristes homens azuis, humanos como só Terráqueos, desumanizados pela roupa brilhante de visor translúcido de onde pouco se vê e pouco se sabe. Asfixiados pelo oxigênio que dá suas vidas.
Mas no ano de mil novecentos e vinte e nove, após um salto sobrehumano, física quântica, Deus ou algo misterioso assim, uma nave vinda da Terra chega com sete astronautas no Outro Planeta nomeado outrora Kepler-186. Planeta de zona habitável, de calor, de água e outras sedes que nos cercam. Surpreendente Planeta-Irmão.
O Homem que lá chega se vê.
Praias, cidades, desejos, florestas, incertezas, guerras, passeios, desertos, crianças, mares, túneis, refeições, barulho, doenças de pele, insetos, esgoto, máquinas, livros, cabos, amizade, música e solidão. Tudo é igual. 
Mais assombroso que o desconhecido é aquilo que nos torna iguais. E assombrados os sete astronautas quiseram voltar.
Pois agora todos sabem que a mesma paisagem na janela espanta o reflexo no espelho.

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