sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Da Série : Revival VIII

Upstairs





Seth desceu as escadas correndo com a mochila esvoaçando feito asas. Não que eu só preste atenção a ele no meio de centenas de garotos todos anjos também, mas Seth é um serafim, da ala direita dos mais notáveis. Olhos de menina, os meus. E os dele.
Enquanto eu devaneio aqui, ele voou a minha volta e me puxa os braços por trás.

‘vamos contar histórias agridoces na cantina”

As histórias de doces só naquela sua boca cravada de tortas. O bolo que gira na sua língua que deixa as palavras cheirando baunilha.

Ele vai me dar seu top 3 hollywoodiano .

‘ você nunca comenta “

Number One : Winona Ryder roubando botas. –“ O charme do crime. “
Number Two : Angelina Jolie se corta enquanto faz sexo. –“ Não tem nada mais intenso do que garotas que se cortam.”
Number Three : Johnny Depp escolhendo filmes - “limite”

Filosofia e o ventilador esvoaçando seus caracóis. Seth não se incomoda, nada há de incomodar menino. Ele só precisa de açúcar e as botas de Winona. Angelina Jolie com esse olhar metralhadora e Seth só sorri para ela. Johnny Depp escolhendo um papel suficientemente cítrico feito limão, uma torta, uma locomotiva, um garoto.

Ele se despede debaixo dos meus silêncios cheios de som, acena qualquer coisa para outros anjos e abre suas asas.



quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Da série : Revival - VII

Sessão de cinema



Os meus demônios assistem enfileirados um filme meloso de amor.

Nem todo diabo é feio quanto parece, pois se estivessem em uma sala de cinema escura poderiam até parecer com anjos. Basta dissipar a neblina. E firmar os olhos.

E o seu nada, minha cara, é cheio de canduras que você exala . Trepidantes. Para outros.
Todos querem sua música, suas pintinhas e seu cadarço, porque somos todos ladrões...

Tudo tão traiçoeiro com você
Você não merece isso.

Se nada resolver, tem

minha mão, um pouco do meu braço sardento e um bando de demônios bonitos.




segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Nii

ador quando a água vermelhada scorre pelos seus pulsos.
pul swimming swing corpo a corpo na área.
adoro quando você cospe água vermeer na tela.
tel me, baby.
lambda prata você come.
com on, baby.
saia perto de mim, antes que eu faça.
niilis-mo-nós.
nada.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Número 1

Marco sendo um gênio. Todo consciente, tem uma função torpe por pura opção. Negação total da genialidade. Ser genial é uma burrice, é o que ele pensa. Eu sou bom em tudo, absolutamente o melhor em tudo. Enfadonho, de pijama o dia inteiro. "I'm doing nothing". Para quê ? A humanidade me olhando com olhos de inveja e desdém, todo segundo. Quantum. Na cara. Então, dou a ela, motivos para tanto julgamento. E trabalho fritando batatas fritas. Coisa que todo mundo gosta, batatas fritas.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Da Série Revival - VI

Lascívia





A atmosfera está criada : O lento suícidio do sexismo na androginia espontânea de todos dançando um electro com gosto Haagen-Daz. Feito um jeans, um all star, um laptop. Nota o charme ? Uma menina, um jeans, um all star, um laptop. E uns meninos vestidos de sereia que mergulham numa sopa de piranhas famintas. É noite.

sábado, 18 de outubro de 2008

Por uma vida inteira





Pelas minhas vontades o mundo seria quase silencioso,
como uma estaca batendo a cada trinta segundos
no oco de um galpão vazio.
Durante 29 segundos eu ouviria só a minha respiração.
Nenhum discurso inflamado, nenhuma ode a nenhum filósofo.
Só minha respiração.
Ninguém quer mais do que isso, é tudo o que se tem :
o som de uma estaca e sua respiração.
Por uma vida inteira.











sexta-feira, 17 de outubro de 2008

eu ando lendo mais q escrevo, pq eu n sou assim :

He Wishes for the Cloths of Heaven

Had I the heavens' embroidered cloths,

Enwrought with golden and silver light,

The blue and the dim and the dark cloths

Of night and light and the half-light,

I would spread the cloths under your feet:

But I, being poor, have only my dreams;

I have spread my dreams under your feet;

Tread softly because you tread on my dreams.

(W.B.Y)

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Como pode ser gostar de alguém
E esse tal alguém não ser seu
Fico desejando nós gastando o mar
Pôr-do-sol, postal, mais ninguém
Peço tanto a Deus
Para lhe esquecer
Mas só de pedir me lembro
Minha linda flor
Meu jasmim será
Meus melhores beijos serão seus
Sinto que você é ligado a mim
Sempre que estou indo, volto atrás
Estou entregue a ponto de estar sempre só
Esperando um sim ou nunca mais
É tanta graça lá fora passa
O tempo sem você
Mas pode sim
Ser sim amado e tudo acontecer
Sinto absoluto o dom de existir,
Não há solidão, nem pena
Nessa doação, milagres do amor
Sinto uma extensão divina
É tanta graça lá fora passa
O tempo sem você
Mas pode sim
Ser sim amado e tudo acontecer
Quero dançar com você
Dançar com você
Quero dançar com você
Dançar com você


(V.M.)


sábado, 11 de outubro de 2008

Da série - Revival - V

Verde

Caro Finn,
Tenho pouca tinta e menos paciência. Os olhos escuros, marejados e indecisos. Aqui, essas cicatrizes de pus e vergonha. No entanto, dou-me ao luxo burguês de escrever no estilo Mont Blanc uma carta cuspida e escancarada. Ouro escarrado e esculpido. Mas Finn... um fogo queima a pele, sinto cheiro de carne... Essa lâmpada acesa na cara e a tinta acabando. Finn, sem mais prolongas, sou assim : pus, tinta e um vermelho sou sua.

Look

"Pouco os deuses nos dão, e o pouco é falso. Porém, se o dão, falso que seja, a dádiva."
(F.P.)
Os olhos abertos. O creme está espalhado nos seus restos. Seus livros. Tão abertos. Empoeirados na esquina de nossa casa, nossa ex-casa. Minha. Caixas vazias. Vazias. Um creme. Seu cheiro. Sua pele. Nunca minha. Tão minha.
Olhe. Você deixou aqui meu coração. Lembra ? Alguém, algum dia, faria qualquer coisa por você? Qualquer coisa ?
mas é que...
Pouco seria suficiente, não é? É o pouco que você procura. Eu sei.
Olhei fundo nos meus olhos. Agora eu sei. Olhe, estou tranquila aqui no meio de suas coisas esquecidas. Um coração no chão, batendo aberto.
Sou como esta casa, vazia.

Freckles


"... e charlie brown espera por mais um ano o cartão de dia dos namorados da garotinha ruiva."



Acordei sem sardas.
499.918 sardas a menos.
Fora o pacotinho cheio delas que eu te dei...
...estranho pensar em mim sem chuviscos.
Sem você.

Da Série : Revival - IV

Claire

Claire desliza na beira da piscina, caderno, lápis e bíquini. Retrovisor e tv. Refrigerante na boca, boca. Claire cantarola. A câmera enquadra, meio, costas até joelho. Claire desliza. O toque dos pés no piso de pedra. Unhas pintadas de vermelho derretem no azul after azul. Claire suspira Coke e olha para trás. Rec.
eu estou me repetindo, mas... foda-se... ninguém lê isso aqui.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Fim

Você mordendo a cabeça do urso, nervosa feito um cão malvado. A caneta atravessando a linha, sobrepondo matemática. Não que eu tenha deixado você assim, com ares de psicopata. Eu não. Você quis ficar assim, logo você, doce como açucar. Mas, ok, enjoei. The happy end.

domingo, 5 de outubro de 2008

Da Série : Revival -III

Miopia ou Ele nem Liga

Seth tem acessos teóricos adoráveis. Atira pela janela alguns biscoitos e conta uma história de formigas dentro do seu computador. Eu acredito porque ele tem tanto medo de besouros como eu. Quem tem medo de inseto entende de inseto. Gente não entende de gente.

Passa pela minha cabeça comprar um açucareiro.

Eu olho para os joelhos dele por baixo da mesa e eles estão ralados. Ele põe a cabeça em baixo da mesa também e me sorri números cabalísticos.

Seth me contou sua teoria de que toda imagem de pessoas em fotografias são imagens de seus egos, por isso todo mundo aparece quatro quilos mais gordo. Eu acho essa teoria um escândalo e mexo nos meus óculos - tique nervoso. Eu não sei sorrir números cabalísticos.

Ele me perguntou se eu comia cola quando era pequena e eu disse que sim.

“ por isso você é maluca “

Seth não enxerga porque todo leitor ávido precisa de óculos. Ele não enxerga nadica de nada. Eu acho que sim, mas também acho que nem todo mundo que usa óculos é leitor ávido.
Acho também que biscoitos esmigalhados pelo teclado atraem formigas, o que torna um açucareiro muito útil, assim, como se fosse uma espécie de estratégia...
E nosso medo faz os besouros darem rasantes como aviões em guerra. Eu estou me protegendo nas trincheiras da biblioteca. A nossa hipermetropia nos reconhece.

mas gente nem liga.

sábado, 4 de outubro de 2008

rindo à toa

Sejam perfeitas, unhas bem feitas, macrobióticas, ruidas sem culpa, sem vermelho, sem teu olho roxo, desidratada, na rua, sem casaco, foca sem pele, ressecada, sem diamante, hemodiálise, roendo nervos, roendo os dedos, comendo ratos, espancando, sujando e rindo sem parar.rindo.rindo.rindo.rindo.rindo.rindo.rindo.rindo.rindo.rindo.rindo.rindo
" - Sabe em que eu estou tocando ?
- Seu coração ?
- Partido. "


(C.D.)

Da série : Revival - II

“ Nossos tempos se confundirão e ao cronologia se perderá
num orbe de símbolos. “

( Jorge Luís Borges )




Um dia encontrarei você em qualquer cidade e não direi uma única palavra. Uma alegoria de luzes fosforescentes sobre as nossas cabeças. E tudo estará dito.

Panapaná

O pulso amarrado com suas asas de borboleta. O sangue eclodindo em revoada. Pequena, debata-se na parede da artéria.
O chão está forrado de borboletas mortas, enquanto o sol esmaece, coagulado.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Da série : Revival - I

Penélope

Divague. O nome que te deram é tão característico de solidão. As linhas de fina lã que eu engulo para rastrear, lá dentro, alguma nesga de sentimento coerente. A agulha entalada na garganta, porque se engulo perco a meada do que está sendo bordado.
Cada sílaba dói.
Abro a boca porque não se espera por alguém sem respirar.



cabeza-ficción



Um espelho que dê para fixar na porta do banheiro, no qual eu possa me enxergar de corpo inteiro. Um espelho e um olho morto. Um pulo exagerado do décimo andar. Isso mesmo, se afastem enquanto há tempo.