quarta-feira, 22 de setembro de 2010

amoreiras sobre o mar

Deitamos embaixo da árvore e o céu parecia salpicado de uma chuva que caiu ao contrário, sobre um chão verde e azul, colorindo tudo de gotículas vermelhas. Esse pensamento me fez rir. Seth me olhou de canto e se aproveitou do meu bom-humor. Lá vem ele com suas artimanhas...
- Lá do lado Leste, lá onde o sol está nascendo, as amoras são doces e gordas como bolas de sorvete.
- Por que, por acaso do outro lado não são ?
- Nada disso, dê a volta na árvore e deste lado você olha para elas e sente a boca se enchendo de uma saliva agoniada, a boca está se prevenindo contra um azedume só.
- Hm. E em cima ?
- Por volta das onze e meia da manhã, neste lugar, nuvens carrancudas de tanto cinza costumam aparecer todos os dias e ficar por aí, até o fim do dia. Então, indignadas, lá em cima, as amoras tem essa acidez só digna daqueles que perderam a oportunidade de ser iguais aos bem sucedidos, suculentos e gostosos como bolas de sorvete. Por questão de uma hora, duas, elas ficaram um tanto amargas.
Estou rindo.
- E tem mais!
- Mais o quê?
- Aqui embaixo, onde as mãos alcançam, as amoras se encolhem assustadas, contra a vontade das mãos de meninas e meninos.
Eu estico o braço, obviamente sem alcançar.
- Não, não. Aqui não podemos alcançar.
- Não vamos comer ?
- Não. Vamos correr até o mar. Onde milhões de pés estão plantados sobre as águas, com amoras felizes e gordas como bolas de sorvete.
- E quem vai nadando até elas ?
- Eu vou caminhando.
- ?
- Hum-rum.
Seth tem dessas. Não tenho idéia do que ele anda lendo, mas anda ficando ainda mais doce, como bolas de sorvete.
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O Senhor respondeu: “Se tivésseis fé, mesmo pequena como um grão de mostarda, poderíeis dizer a esta amoreira: ‘Arranca-te daqui e planta-te no mar’, e ela vos obedeceria. " ( Lucas, 17:6)

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