quinta-feira, 23 de junho de 2011

meu coração, que batia tão rápido.




Olhei pelo buraco da fechadura e meu coração bateu como coração de pintinho. Eu tinha sido devorado pelo bilhete que ela me deixou na caderneta e a vendo comer daquele jeito me devorava duas vezes. Na mesa tinha um copo cheio de algo que borbulhava e eu só enxergava pela metade, mas aquele borbulho me lembrava o cinema e o barulho do projetor que parecia o barulho de esquilos mastigando nozes. E eu fiquei ali. Ela cortava aquilo e aquilo sangrava e escorria pela boca dela, era nojento, mas era mais assustador do que nojento e eu não sentia nojo. E meu coração de pintinho batia tão rápido que eu não conseguia mais escutar. Não sei porque fiquei lá olhando por aquele pedacinho de mundo e não tirava o olho, não gostava da cena e não gostava mais dela, não nessa situação. Uma menina assim tão bonita comendo aquilo sem nem pensar, sem nem atinar, sentada na mesa grande com aquela pose de princesa, com os dentes vermelhos como rubis. Foi quando senti enfraquecer meu coração e as pernas amolecerem, senti um suor escorrer feito mar pelo meu corpo e tirei o olho do pedaço de mundo, olhando para o meu peito. Só vi o buraco que ela deixou ali e o mar não era esverdeado como eu vi no cinema, era escarlate feito suas unhas. E morri esmagado como um coração de pintinho entre dedos fortes, enquanto ela comia meu coração sentada na mesa grande.






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