domingo, 20 de novembro de 2016

As touradas de Madrid


nas paisagens longas que sobraram do planeta, anos e séculos se passaram.
os escombros datados, colunas de pó brilhante, restos como o sal do deserto.
o nada és Terra de ex-azul, essa cor-lembrança em dois astronautas miseráveis, retidos em estátuas voltando de algum confim.
quando da descida o azul se esmaeceu em fotos premiadas irreconhecíveis,
quando na descida explodindo os tristes homens azuis

o oceano agora era uma barba branca amarelada pelo alcatrão

e os astronautas pousaram.

e andaram sobre a Terra, agora mais chão, mais Terra voltou ao pó, pois grão de poeira espacial.
então caminharam com sede, fome e saudade.
e se arrastaram até encontrar a cidade perdida, fragmentos da outrora chamada Madrid.
mas eis que a única memória sobre a cidade eram pedras de um vermelho tão vivo que os cegou.
a Terra cuspia fora os corações dos touros mortos em Madrid.

os astronautas cegos nada mais viam,
nada mais eram,
em nada estavam ali.

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